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Solidão

Renato Muniz B. Carvalho
Publicado em 04/03/2024 às 18:21
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Você já reparou que tem cada vez mais gente sozinha no mundo? Estou me referindo aos que vivem sós, aos solitários. Essas pessoas existem, desde sempre, em quase todos os lugares, mas algumas notícias e estudos atuais dão conta do seu crescimento. Não é à toa que aumenta a quantidade de lojas que vendem animais de estimação e produtos para eles. Pets são ótimos para fazerem companhia a quem quer ficar isolado. São afetuosos, não se irritam tão fácil, não costumam ter tantos transtornos de humor, não fazem chantagem emocional. Ou não? Latem ou miam, mas existem soluções técnicas caso estejam importunando a vizinhança. Só falta falarem, mas se adaptam bem ao lado dos reclusos, dos arredios. Hoje, muitos dizem que morar sozinho é uma escolha pessoal, uma decisão de vida. Não sei. Imposição do sistema?

Ao lado das lojas de pets, também crescem as lojas de produtos e serviços especializados em atender a uma ou, no máximo, duas pessoas. Vendem panelinhas pequenas, vasinhos, camas de solteiro, conjuntos de louça com poucas peças, pequenas porções de comida, etc. E os imóveis? O setor imobiliário usa o termo “estúdio”, onde não cabem mais do que duas pessoas. Que fenômeno é esse?

É uma tendência? Evolução natural das coisas? As pessoas se cansaram da convivência umas com as outras? Acabou a paciência? Talvez seja cedo para falar, mas é preciso prestar atenção aos indícios. O nosso destino pode estar comprometido. No passado, o solitário era visto como um pobre coitado, alguém que não teve a sorte de encontrar sua cara-metade. Falar isso nos dias de hoje pode ser considerado ofensivo.

Não existem mais as almas gêmeas? Ou estão rareando? Será uma questão puramente econômica? Deve ser porque uma pessoa gasta menos do que duas, três, quatro… Ou é uma mudança comportamental? Fico intrigado com a proliferação de aparelhos e aplicativos vendidos para os solteiros. Alguns são programados para entabular conversas. E a “inteligência artificial”? O caminho está pavimentado. Ao chegar em casa, um solitário dará bom dia, boa tarde ou boa noite a uma máquina. Eu fico atrapalhado só de imaginar. O que o futuro nos reserva?

Daqui a pouco, estarão alugando ou emprestando pessoas para servirem como companhia. Não me refiro a serviços sexuais. Está sozinho numa sexta-feira à noite, não quer sair com os amigos nem ver séries na TV? Contrate uma pessoa com habilidades para ouvir ou falar, talvez para servir só como presença física, para ficar de boca fechada. Se for o caso, contrate um abraço, um beijo no rosto, um aperto de mão, alguém que jante com você e vá embora em seguida. A criatividade está solta. Isso pode virar um grande negócio no futuro.

Seria excelente se a vendagem de livros aumentasse como consequência disso tudo. Mas é tão bom ficar horas comentando com alguém sobre um livro lido, não é?

 Renato Muniz B. Carvalho

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