ARTICULISTAS

Sucesso nos negócios

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 05/10/2020 às 19:22Atualizado em 18/12/2022 às 10:00
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Minha aposentadoria saiu num dia e no outro os burocratas já estavam ameaçando acabar com a minha alegria. É a tal história: alegria de pobre dura pouco. Lá vinha a proposta de congelar as aposentadorias por dois anos e sei lá mais o quê. A gente sabe como terminam essas coisas, é como mãe que promete que compra na volta o brinquedo para o filho, ou a velha lorota do namorado que garante: “depois a gente se casa”. Essas histórias nunca terminam bem, assim como raros são os governos que trazem ganhos reais para o povo, mas…

Como eu não tinha condições de voltar a dar aulas — depois de quarenta anos perdendo a voz —, resolvi buscar uma renda complementar. Acho que é assim que os entendidos em finanças falam. Comecei a quebrar a cabeça.

Pensei em vendas, mas eu não tenho o menor talento pra isso. Sempre admirei a turma que vendia badulaques na escola: roupas, comidinhas e outros produtos, sobre os quais é melhor não comentar, mas eu nunca tive tino comercial.

Por conta da pandemia, pensei em fabricar máscaras, mas larguei de mão. A primeira razão é porque o povo não quer saber de usar, não sabe usar e questiona o uso, entre outras bobagens. Cheguei a pensar em fazer um curso de copiar e colar, mas não, esse é o curso que ensina alunos preguiçosos a fazer trabalhos acadêmicos e jornalistas sem caráter a produzir fake news; o meu curso era corte e costura. Quando olhei o preço de uma máquina de costura, desisti. Verdade que tinha uma turma no meu pé para oferecer empréstimo consignado, dinheiro na minha conta, enfim, acho que fiz bem em abandonar a ideia.

Fui dar uma volta na avenida pra ver se a inspiração vinha. E veio! Vocês não vão acreditar! Achei um monte de parafuso, clipes, chaves, pregos e outras porcarias jogadas no chão e decidi me profissionalizar na atividade. Fiz pesquisas na Internet e constatei que havia mercado.

Comprei um chapéu, luvas, sacolas descartáveis, garrafinha d’água e logo cedo estou na rua, na luta! Cato tudo o que encontr porcas, parafusos, arruelas etc. Descobri que tem muita garrafa de cerveja, máscaras e outras coisas. Imaginar os motivos que levam uma pessoa a jogar fora a máscara não é difícil, duro é imaginar o que leva a pessoa a jogar fora sutiãs, calcinhas e cuecas! Sim, encontro muito esse tipo de mercadoria. As máscaras eu até recolho, lavo bem e guardo, mas com roupas íntimas ainda não sei o que fazer.

Tenho aprendido muito com essa nova atividade e só tenho a agradecer à atual política econômica que me proporcionou tudo isso. Tenho refletido bastante sobre essa sociedade que joga tantas coisas nas ruas, só não entendi ainda o que leva um sujeito a descartar sua cueca na avenida. Passo longe!

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