Algumas experiências vividas na infância ficam para sempre na memória. Acho que acontece com quase todo mundo, embora, com o passar do tempo, a gente se esqueça, mude as versões ou interprete a partir de novas visões da realidade. Os entendidos no assunto dizem que esse processo faz parte do crescimento intelectual e do amadurecimento das pessoas.
Uma das coisas de que me recordo na infância eram as trocas de vasinhos que minha mãe fazia com vizinhos e parentes. Samambaias de várias espécies, violetas, antúrios, comigo-ninguém-pode, dracenas, palmas e outros tipos de plantas cujos nomes não guardei. As trepadeiras também eram bastante apreciadas: buganvílias ou primaveras, com sua grande variedade de cores, lágrima-de-cristo, alamanda amarela, sete-léguas, etc. Era comum encontrar quem se dedicasse a uma única espécie. Minha mãe, por exemplo, sempre gostou das violetas. Num balcão que ficava no corredor lateral da casa, ela gostava de cultivar plantas de cores e tipos variados. Às vezes, quando um deles estava florido, sadio, atraente, ela levava para a sala. Depois, substituía por outro.
Conversar sobre plantas, elogiar a beleza dos vasos, trocar informações sobre doenças, adubação, poda e irrigação era quase uma terapia, uma distração e um bom recomeço de conversa quando os outros assuntos desapareciam nos encontros formais. “Como estão vistosos seus antúrios, fulana!”, e a conversa fluía sem constrangimentos, ia longe até enveredar por outras questões mais ou menos urgentes.
Essa prática estendia-se às hortas caseiras, onde elas existissem, porque nem toda casa tinha quintal com canteiros apropriados ou gente disposta a cultivar hortaliças. Lembro-me de minha avó dando ou recebendo mudinhas de couve, de hortelã, de capim-cidreira, entre outras ervas medicinais e verduras. Eu ficava curioso com tanta sabedoria: de onde vinha, quem ensinou, como aprenderam?
Um dia, sem que eu tenha percebido, a prática desapareceu, ninguém mais tocou no assunto. Saiu de moda. Se alguém quiser plantas, vasos, apetrechos de jardinagem, a solução é comprar nos supermercados ou nas lojas especializadas. Chegou o tempo em que recorremos à internet para encontrar dicas de cultivo e demais informações. Imagino que as pessoas não tenham o costume de se dirigir às escolas de agronomia para buscarem informações sobre o cultivo de violetas, né? O conhecimento existe, está por aí, mas as trocas entre os interessados, as conversas soltas e despretensiosas desapareceram ou se modificaram radicalmente. Perderam o sentido?
O que era uma forma de socialização e convivência adquiriu um caráter mercantil, frio, distante do conhecimento popular, mesmo sabendo que muita coisa na internet não passa de especulação ou desinformação, da política aos produtos que curam doenças inimagináveis, além das panaceias que resolvem todos os nossos problemas: de saúde, de alimentação e sobre as guerras. Não quero generalizar, existem exceções e tem muita gente boa fazendo um excelente trabalho nas redes sociais, mas trocar vasinhos é algo cada vez mais raro. É pena!