Nesses tempos difíceis, fico constrangido em perguntar ao meu interlocutor se está tudo bem. Acontece com você? Essa pergunta, nos dias de hoje, pode ser interpretada como uma pergunta retórica, uma pergunta meramente formal, uma pergunta para a qual, na verdade, pouco importa a resposta. Será uma pergunta inconveniente? O pior é quando ninguém se interessa e não vai sequer prestar atenção na resposta, pois ela pode ser desagradável, estarrecedora. Existem perguntas que insinuam descaso pela resposta, ou ironias, do tip “Onde vamos parar?”, ou “Até quando vamos ser obrigados a conviver com essa situação?”. É melhor não generalizar, pois é o costume que nos leva a fazer perguntas corriqueiras, perguntas feitas, em grande parte, por pessoas educadas e cordiais. O problema é o contexto atual.
As boas regras de convivência — para aqueles que prezam isso — nos levam a querer saber da saúde das pessoas com quem conversamos. Queremos saber das expectativas diante do futuro, interesse real, e não fofoca ou intromissão na vida alheia. Custa perguntar: “Como vai, fulano?”, “O que você tem feito de bom?”, “Por onde você tem andado?”, coisas assim? Mas, num momento de crise, com tantos episódios ruins, tantas inseguranças e incertezas, o que esperar de uma pergunta como esta: “Está tudo bem?”. Como assim? Tudo bem por quê? Você vive em que país? Não te contaram que estamos mergulhados numa terrível crise política e sanitária? Você não soube de sicrano? E de beltrano? Pois é!
Fico feliz que esteja tudo bem com a pessoa, este é o meu desejo sincero, mas já pensou se essa pergunta for feita para familiares de indivíduos afetados pela Covid-19? Imagine as respostas: “Está tudo bem, menos com minha prima, que está entubada no hospital…”. Ou essa: “Está tudo bem, fora meu tio que está doente e não consegue vaga na UTI…”. Lamentável, não é? Logo, as circunstâncias não estão nada boas! O que fazer? Só para esclarecer: esta pergunta que acabei de fazer é verdadeira e não foi formulada com intenção de tergiversar ou de contornar o problema.
Que tempos difíceis são esses em que temos de perguntar: “Onde fomos amarrar nosso burro?”. Quantas vezes teremos de repetir coisas óbvias? Quanto ao lugar onde amarramos o burro, é bom pensar no que isso significa e tentar mudá-lo de lugar da próxima vez. Sim, entramos numa fria, em uma situação desastrosa, não adianta nos iludirmos e continuar enganando os demais. Devemos cobrar dos responsáveis. É necessário começar a estudar como sairemos deste desalento, pois estamos no mato sem cachorro.
Os mal-educados, os insensíveis e os ríspidos provavelmente não estão preocupados com essas questões. É típico deles iniciarem conversações sem cumprimentos, sem saudações cordiais. Não têm interesse e empatia com o próximo, não estão nem aí para os outros, mas você não precisa ser assim. E, então, está tudo bem com você?