ARTICULISTAS

Um novo curso

Renato Muniz B. Carvalho
Publicado em 15/07/2024 às 18:16
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Durante muitos anos, trabalhei no setor educacional, do Ensino Fundamental ao Ensino Superior. Além das questões pedagógicas, políticas, salariais, de conteúdo, etc., sempre me preocuparam temas como o futuro das novas gerações, sua formação, as demandas socioeconômicas que exigiriam novos cursos, novas habilidades, novas tecnologias, etc. Às vezes, acertava o alvo; às vezes, não. Novos cursos surgiram; alguns fincaram pé, fizeram sucesso; outros desapareceram.

Um dia desses, andando despreocupado pelas ruas da cidade, veio-me à cabeça a ideia de um novo curso. Criar um curso, estruturar um currículo, escrever um projeto pedagógico, reunir um bom corpo docente, montar uma biblioteca e laboratórios nunca foi tarefa fácil. O processo exige boa vontade, conhecimento da legislação, dinheiro e domínio do assunto. Mas eu não estava pensando num curso qualquer não. A cabeça matutava à medida que eu dava meus pulos na calçada, pra lá e pra cá, como se pulasse obstáculos.

Não era uma corrida olímpica, eram fezes, e imagino que fossem de adoráveis cãezinhos em passeios matinais com seus tutores. Esses animaizinhos, seja qual for o tamanho, mal acordam e já pedem para ir “ao banheiro”, que não ficam nos seus lares, mas nas ruas, nas praças e parques. Como são pouquíssimos os parques, o destino da maioria é a calçada mesmo.

É constrangedor caminhar numa calçada tendo de desviar de montinhos de cocô. Chato é quando alguém pisa num desses e sai arrastando o sapato ou o tênis no chão. Fica uma beleza o rastro. Tem lugares que parecem estimular a preferência deles — talvez o cheiro de um motive os demais, tipo um “banheiro público”.

Foi aí que pensei num curso. Não para os pets, mas para seus tutores. Para os bichos já temos atividades demais, não podemos estressá-los, afinal, eles já estão com a agenda cheia e têm muitos problemas: alergias, dermatites, coceiras, decisões sobre planos de saúde, exercícios, banho e tosa, alimentação balanceada, etc. Ainda têm de se preocupar com os que implicam com seus latidos, miados inconvenientes, uso de focinheiras e por aí vai.

Cheguei à conclusão de que os tutores precisam de um ou vários cursos para atender os seus pets, acompanhar sua evolução, cumprir sua função. Vou citar alguns: “Necessidades fisiológicas”. Este curso incluiria disciplinas como: local adequado para aliviar; horários de passeio; recolhimento do produto; adequação e destinação final, etc. Outro seria: “Ruídos, latidos, miados e outras manifestações sonoras”. Poderia incluir disciplinas como: noções de acústica; manuseio de decibelímetros; bons modos na vizinhança, etc. Poderíamos pensar na pós-graduação: “Etiqueta canina”, “Viagens com pets”, “O manejo correto de coleiras e guias”.

Fui longe com minhas divagações. Já pensaram numa faculdade especializada no assunto? Será que algum pet poderia ser docente nela? Acho que teria tudo para ser um sucesso. Depois, poderíamos pensar em cursos rápidos de boas maneiras, civilidade, cidadania, leitura e interpretação de textos, política…

 Renato Muniz B. Carvalho

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