ARTICULISTAS

Uma noite na biblioteca

No filme Uma noite no museu (Night at the Museum, EUA, 2006, dirigido por Shawn Levy)

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 11/10/2015 às 11:57Atualizado em 16/12/2022 às 21:51
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No filme “Uma noite no museu” (Night at the Museum, EUA, 2006, dirigido por Shawn Levy), o ator Ben Stiller, no papel de um simplório guarda-noturno, passa uma noite memorável e, ao mesmo tempo, assustadora e inusitada, no Museu de História Natural de Nova York. Trata-se de uma comédia de sucesso, cuja história cresce em suspense quando, lá pelas tantas da madrugada, o Museu ganha vida, os personagens históricos renascem, os bichos empalhados fazem uma boa farra e até um dinossauro se movimenta feroz e desajeitado por entre relíquias históricas e peças etnográficas.

O filme não é grande coisa, em termos da arte cinematográfica, mas o enredo é curioso, inventivo e as situações criadas são engraçadas, fazem-nos rir.

Cito o filme para contar uma situação semelhante, recorrente em minhas divagações insones: passar uma noite numa biblioteca e poder ver os livros ganhar vida no silêncio e no vazio das salas de leitura sem leitores, observar os volumes ao deixarem as respectivas estantes e se misturarem uns aos outros, dialogarem entre si; livros de ficção com obras de referência, livros de poesia, tão sensíveis, com livros didáticos, tão sem graça.

Meu sonho é ver saltarem das páginas os personagens, reviverem os autores, os cenários, as histórias... E eu ali, no meio dessa confusão criativa, podendo conversar com os vivos e com os mortos, com a história e com monstros intergalácticos; visitar lugares próximos e distantes, além dos imaginários, é claro!

Já pensaram em como seria ter uma conversa com Marco Polo sobre suas viagens ao Oriente? E como seria interessante discutir a guerra, Cuba, as touradas e as pescarias com Hemingway? E falar de Macondo com Gabriel Garcia Marquez? Saber do Machado de Assis se Capitu afinal traiu ou não Bentinho? Um dos grandes mistérios da literatura mundial, sim, mundial! E eu ali, trocando ideias com nosso maior escritor: “E então, meu caro Machado, traiu ou não traiu?”. Pouco importa, mas já imaginaram?

Poder conversar com meu predileto, Graciliano Ramos, e sugerir a ele, humildemente, que foi um erro fumar três maços de cigarro por dia; mas isso seria uma descortesia. Diria a ele como me emocionou ler a história da família de retirantes em “Vidas Secas”, a violência patriarcal e latifundiária de “S. Bernardo” e a singeleza de “Infância”. Demais!

A Herman Melville eu diria que sua obra, “Moby Dick”, é belíssima, mas que nos dias de hoje jamais Ismael poderia fazer uma caça à baleia como a que ele, Melville, de forma magistral, nos contou. Diria a ele que as baleias correm sério risco de extinção – esses animais tão simpáticos e pacíficos.

Quando vou a uma biblioteca, gosto de deixar a imaginação fluir, tanto faz em que direção. Paro por aqui, mas essa noite seria fecunda e interminável. Diante do que poderia acontecer numa biblioteca, “Uma noite no Museu” é fichinha!

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