No filme Uma noite no museu (Night at the Museum, EUA, 2006, dirigido por Shawn Levy)
No filme “Uma noite no museu” (Night at the Museum, EUA, 2006, dirigido por Shawn Levy), o ator Ben Stiller, no papel de um simplório guarda-noturno, passa uma noite memorável e, ao mesmo tempo, assustadora e inusitada, no Museu de História Natural de Nova York. Trata-se de uma comédia de sucesso, cuja história cresce em suspense quando, lá pelas tantas da madrugada, o Museu ganha vida, os personagens históricos renascem, os bichos empalhados fazem uma boa farra e até um dinossauro se movimenta feroz e desajeitado por entre relíquias históricas e peças etnográficas.
O filme não é grande coisa, em termos da arte cinematográfica, mas o enredo é curioso, inventivo e as situações criadas são engraçadas, fazem-nos rir.
Cito o filme para contar uma situação semelhante, recorrente em minhas divagações insones: passar uma noite numa biblioteca e poder ver os livros ganhar vida no silêncio e no vazio das salas de leitura sem leitores, observar os volumes ao deixarem as respectivas estantes e se misturarem uns aos outros, dialogarem entre si; livros de ficção com obras de referência, livros de poesia, tão sensíveis, com livros didáticos, tão sem graça.
Meu sonho é ver saltarem das páginas os personagens, reviverem os autores, os cenários, as histórias... E eu ali, no meio dessa confusão criativa, podendo conversar com os vivos e com os mortos, com a história e com monstros intergalácticos; visitar lugares próximos e distantes, além dos imaginários, é claro!
Já pensaram em como seria ter uma conversa com Marco Polo sobre suas viagens ao Oriente? E como seria interessante discutir a guerra, Cuba, as touradas e as pescarias com Hemingway? E falar de Macondo com Gabriel Garcia Marquez? Saber do Machado de Assis se Capitu afinal traiu ou não Bentinho? Um dos grandes mistérios da literatura mundial, sim, mundial! E eu ali, trocando ideias com nosso maior escritor: “E então, meu caro Machado, traiu ou não traiu?”. Pouco importa, mas já imaginaram?
Poder conversar com meu predileto, Graciliano Ramos, e sugerir a ele, humildemente, que foi um erro fumar três maços de cigarro por dia; mas isso seria uma descortesia. Diria a ele como me emocionou ler a história da família de retirantes em “Vidas Secas”, a violência patriarcal e latifundiária de “S. Bernardo” e a singeleza de “Infância”. Demais!
A Herman Melville eu diria que sua obra, “Moby Dick”, é belíssima, mas que nos dias de hoje jamais Ismael poderia fazer uma caça à baleia como a que ele, Melville, de forma magistral, nos contou. Diria a ele que as baleias correm sério risco de extinção – esses animais tão simpáticos e pacíficos.
Quando vou a uma biblioteca, gosto de deixar a imaginação fluir, tanto faz em que direção. Paro por aqui, mas essa noite seria fecunda e interminável. Diante do que poderia acontecer numa biblioteca, “Uma noite no Museu” é fichinha!