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Vai perder a piada?

Renato Muniz B. Carvalho
Publicado em 13/02/2024 às 18:41
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Pra começo de conversa, se vocês têm tido surtos constantes de mau humor, se andam tristes ou sorumbáticos, se esbarram em gente estressada e irritada por todo canto, leiam este texto. Urgente! É preciso rir, a não ser que vocês queiram endoidecer de vez, amalucar-se ou atazanar os outros com sua sisudez. E tem mais: quem estuda o assunto diz que rir de si mesmo é essencial para a manutenção da boa saúde mental.

Nos últimos quinze dias, fiz uma pesquisa rápida na internet e cheguei à conclusão de que nove em cada dez brasileiros e brasileiras já não conseguem mais estabelecer um diálogo sem tropeçar em algum degrau de irritação ou desentendimento.

Concluída a pesquisa e depois de passar duas noites em claro pensando em tudo que vi, ouvi e li, pude constatar, de forma cristalina, que o cenário é complexo e indefinido. A verdade nua e crua é que muitos dos participantes dos grupos sociais examinados estão perdendo a noção de realidade. Não sei, ainda, se foi a realidade que mudou, se foi a capacidade de interpretar a realidade que sofreu duros golpes ou se isso é um efeito colateral de embasar a argumentação nas informações colhidas na própria internet.

Uma conclusão inicial óbvia: se quisermos evitar tragédia maior, em termos da perda definitiva do bom humor, temos de melhorar o panorama cultural e a leitura. Por precaução, fui à cata de mais evidências. Os índices de leitura, os indicadores relacionados à publicação de livros e à tiragem de jornais e revistas têm variado muito nos últimos tempos, mais para baixo do que para cima. Não creio que se possa atribuir a isso substancial alteração do humor nacional, mas, no mínimo, afeta leitores, estudantes, editores, escritores, donos de livrarias e promotores de eventos da cadeia produtiva do livro.

Pensei em dar uma passadinha rápida nas escolas, mas desisti. Sinceramente? Fiquei com receio do que iria encontrar. Vai ficar para outra pesquisa, principalmente porque é nas ruas que a nossa verdadeira face se revela. Nas ruas, nos botecos, nas filas de banco e dos caixas de supermercados, nos pontos de ônibus, nas repartições públicas país afora.

Percebi que, quando o humor se perde ou é desprezado, as consequências negativas aparecem. Uma das características, por contraditório que seja, é o uso indiscriminado de piadinhas insossas, de figurinhas, de segundas intenções e de ironias que ninguém entende. Hoje, as pessoas pouco conversam, seja na internet ou ao vivo. Criticam todo mundo, adoram citar gafes, reprovar falas ou agir de forma zombeteira. Virou mania nacional. Tem a ver com a política, é claro! Enquanto isso, os níveis de bom humor não sobem. O que vamos fazer sem o bom humor? Como vamos criticar os políticos sem rir deles? Como vamos rir de nós mesmos se não entendemos a piada?

 Renato Muniz B. Carvalho

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