ARTICULISTAS

Visões da escola

Eu gosto muito de escolas, como lugar, como ideia, como princípio de vida

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 01/03/2015 às 13:17Atualizado em 17/12/2022 às 01:12
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Eu gosto muito de escolas, como lugar, como ideia, como princípio de vida e de realização humana. Senão, não teria ficado a “vida toda” dentro delas, ligado a várias delas, em termos profissionais e sentimentais. Acontece que, às vezes, fico com receio de somente recordar situações tristes ou negativas a respeito da escola. É que, infelizmente, ao invés de ser um lugar de muita alegria e encontro, muitas escolas, ao longo do século XX e início do século XXI, foram locais não muito favoráveis aos alunos e aos professores. Muitas delas não se prestaram nem ao aprendizado e nem à formação integral do ser humano.

Por quê? As respostas são muitas, não conclusivas, e nem sei se um dia vamos chegar a elas. Um dos fatores essenciais que explicam a questão é que a educação, e a escola, sempre foram consideradas um negócio, um empreendimento meramente comercial (quiçá industrial!). E não foram só as escolas particulares que se enquadraram nesta situação.

É que as relações de poder existentes nas sociedades, também estavam (e estão!) dentro da escola. A escola reproduziu, e continua reproduzindo, as relações sociais e políticas vigentes. Com raras exceções, uma sociedade autoritária, onde permanecem firmes e inalteradas as desigualdades sociais e as inúmeras discriminações, de gênero, de cor, religiosas, etc., transfere para dentro da escola essa mesma estrutura injusta, complexa, inexpugnável à transformação, à formação humana em toda sua plenitude. Ao invés de ser lugar de criação, de crítica, de felicidade, de descobertas, muitas escolas oprimiram, enquadraram, castraram.

Existiram, e existem, as exceções, no tempo e no espaço. Como a sociedade é cheia de contradições, essas mesmas contradições estão dentro da escola, e ela também pode se transformar em espaço de mudança e de realização. Basta que as rígidas normas de controle e de vigilância sejam abrandadas um pouquinho e que se trabalhe a ideia de diversidade cultural. Eu jur não é tão complexo assim! É preciso dar um basta na lógica da reprodução.

Aí, iniciativas inovadoras, projetos criativos e mentes abertas vão aparecer e se destacar. Flexibilizar já é um grande passo. Dar voz aos diversos setores envolvidos no processo educacional, dos alunos aos faxineiros, sem esquecer a comunidade, os pais, o entorno da escola, pode fazer a diferença.

Escola é lugar de gente, e gente é algo muito plural, não existe uma pessoa igual à outra. Gente está de um jeito hoje e no dia seguinte, ou no próximo minuto, já está diferente. Gente, principalmente crianças e adolescentes, têm mudanças significativas de humor, de disposição, de ânimo. Tem hora que você propõe uma atividade e todo mundo diz que está cansado, sem vontade, recusa sair do lugar, levantar-se da carteira. Propõe outra atividade e a energia é total. Vai entender! Com gente é assim mesmo! Gente não trabalha como reloginho, ao sabor das engrenagens. Não é?

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