Tem gosto para tudo. De jiló a caviar, passando pelos queijos finos de Minas Gerais e pela comida instantânea. Tem quem goste de arroz com feijão, churrasquinho de gato, café requentado, couve-flor ao molho branco, soupe à l’oignon, guacamole, tutu à mineira, feijoada e por aí vai. Melhor parar, senão a lista ficaria imensa. Já experimentou algum desses pratos? Já comeu insetos, anfíbios ou flores? Qual é a sua preferência: comida regional ou internacional? Boteco da esquina ou restaurante chique? Prefere comer sentado junto ao balcão de um bar no fim do mundo ou de cócoras ao lado do fogão a lenha?
Sejam quais forem seus costumes, gostos e paladares, um fato pode mudar tudo daqui para a frente: estamos nos tornando comedores de plástico. Sim, pesquisas recentes indicam que estamos ingerindo uma quantidade absurda desse material. Cientistas já detectaram plástico em peixes, no leite materno e na água que bebemos. Daqui a pouco, vamos virar brinquedo de criança, bonequinho de super-herói ou utensílio de cozinha — e teremos de tomar cuidado redobrado para não derretermos no asfalto num dia quente de verão. Quem come e bebe plástico terá sangue, dejetos e lágrimas de plástico. É um tanto óbvio, não? E, ainda assim, assustador.
Vamos ter de mudar certas coisas. Por exemplo, substituir o “do pó viemos e ao pó retornaremos” por “do plástico viemos e ao plástico voltaremos”. Viva a reciclagem! Não haverá escapatória. Pode ser que alguns antigos desejos infantis se realizem: pegar o controle da TV esticando o braço além do comprimento regular deste membro; correr muito, bastando esticar as pernas; saltar grandes alturas. Pensem em outras possibilidades — e lembrem-se de que plásticos são moldáveis.
O problema é o gosto ruim na boca. Gosto de plástico. Aliás, em breve será possível escolher pizza sabor polietileno, polipropileno, poliestireno, poliéster, policloreto de vinila e outros nomes impronunciáveis. Já pensou no cheiro de plástico debaixo do braço — e nas partes íntimas? E os cabelos? Deve ser horrível fazer cafuné num cabelo artificial, desses usados em bonecas de criança. E quando o plástico começar a ressecar, a endurecer, a se quebrar? Porque isso acontece: o desgaste é grande.
Os plásticos vão nos dar uma falsa sensação de longevidade — afinal, foram feitos para durar. Mas os efeitos deletérios vão aparecer no corpo com o tempo, afetando nossa saúde. Sem falar nas graves consequências de respirar a fumaça de resíduos poluentes.
Você pode achar que estou exagerando, mas não. Os produtos à base de plástico tomaram conta da nossa vida. A comida vem em embalagens plásticas; a água que bebemos, também. O banho de rio ou de mar já é um mergulho em substâncias derivadas do petróleo. Nadamos entre resíduos — de microplásticos a coliformes fecais. Que tristeza! Nossa dependência do produto será cada vez maior. Daremos conta de viver sem o plástico? Daremos conta de viver com ele?