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Você gosta de canjica?

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 26/04/2021 às 20:23Atualizado em 18/12/2022 às 13:20
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Quando o tempo esfria, quando a neblina cobre as baixadas durante o amanhecer, ofuscando o horizonte, quando ouço a saracura cantar às cinco da manhã, eu me lembro de canjica. Apesar de estar disponível durante o ano todo, a vontade começa nos fins de abril e segue nos meses mais frios e secos no Cerrado. Nas roças, o milho já foi colhido; em casa, a pamonha está guardada no congelador, o milho de pipoca e o amendoim estão reservados na despensa, parte foi repartida com os parentes e parte será destinada ao consumo da família. É hora de pensar em como tornar os finais de tarde mais aconchegantes.

Você sabe o que é canjica? Já comeu? A palavra pode ter vários significados, inclusive regionais, mas, de modo geral, refere-se a um alimento à base de milho. É aparentada da canjiquinha, cujos grãos são quebrados no pilão e servem para alimentar gente e animais, e do curau. No Nordeste, é chamada de mungunzá, prato feito com grãos de milho-branco e amarelo.

A canjiquinha, também chamada de quirera de milho, é muito comum na alimentação de aves. É feita triturando-se o milho para os grãos se transformarem em farelo. Na culinária regional, o costume é cozinhar e combinar de diversas maneiras, o que manda é a ousadia dos cozinheiros. Quando acompanhada de couve picada, é uma iguaria fina.

O curau, ou mingau, é feito com milho verde. Também é alimento tradicional nos meses de inverno, nas tardes frias. Geralmente, é doce, preparado com o creme de milho verde, batido no liquidificador ou ralado e coado, ao qual se juntam leite e temperos a gosto, em especial a canela em pó. Hoje, é encontrado em restaurantes, feiras e supermercados nas cidades do Sudeste.

O que muitos conhecem como “mungunzá doce” é o que mais se aproxima do que chamamos de “canjica” na região dos chapadões do Triângulo Mineiro. É feito com uma variedade de grãos de milho-branco ou amarelo. Depois de cozido, pode-se acrescentar coco ralado, amendoim moído, açúcar, leite condensado, gemada, canela em pó e cravo-da-índia, a gosto. É um prato consumido o ano todo, mas fica mais gostoso nos meses frios, sem dúvida! Dizem que no Nordeste existem versões salgadas, com feijão e outras misturas, inclusive carnes. Os dois termos, “mungunzá” e “canjica”, etimologicamente falando, podem ter origem africana.

Canjica lembra carinho de avós, tias e mães, nos remete às lembranças de infância, às tradições culinárias regionais, às mudanças das estações do ano. Nesses tempos difíceis e tristes, esqueça por um instante as mentiras, as doenças, o ódio e vá pra cozinha preparar uma canjica. Separe os ingredientes, coloque a criatividade para funcionar e imagine que, quando isso passar, você vai poder convidar os amigos e amigas para experimentarem um delicioso prato típico. Aproveite para colocar a conversa em dia.

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