Poucos são os que nos olham de verdade. Até olham, mas não enxergam. Portanto, inócuo sofrer pelo que estariam pensando de nós, seria corroer em vão. A percepção alheia tem sido no sentido de comparar, disputar, medir. Há, por outro lado, os que morrem para se exibir, seduzindo a atenção do olhar dos outros, que miram, porém apenas para aferir, favorecendo a suposição de melhor ou pior.
Percepção superficial e volátil, comprometida pela fugacidade que domina esse tempo atual. O quanto rico, o quanto bela, o quanto poderoso... como se existir fosse uma situação externa. Uma prática vazia na busca incessante de aparecer. Mas existir é um exercício interior. Assim como Deus não vem de fora, é semente colocada em nosso âmago para brotar de dentro ao encontro da luz que dispôs para todos que a queiram.
Cabe a cada um permitir ou não que germine, surgindo como razão. Enquanto seres, nascemos de nós mesmos e somente depois do que estabelecemos internamente é que podemos nos expandir como individuais. De dentro para fora que se exala a pessoa pela compaixão, pelo amor.
Não apenas pela aparência, pela silhueta, vestes, paisagens, luxo ou vigor, no rompante da vontade insana de projeção, disfarçando sempre uma implícita exibição de superioridade. Incide cega uma ansiedade repetitiva, posto que não vigora nada mais que o tempo do flash, que interrompe a escuridão que ocupa o vazio interno que se tenta preencher.
Eventualmente, acrescenta-se, cinicamente e disfarçadamente, uma invisível intenção de humilhar. Daí, o instrumento Instagram, Facebook, WhatsApp vão provocando efeito social dilacerante, posto que facilitam esta contaminação geral inconsciente. Há um ópio viciante, demoníaco, alienando, acorrentando indefinidamente os atuais.
Que acordemos de nossa alienação enquanto não profundamente afetados a ponto de não nos permitir sequer a provocação própria para a autocrítica. Ainda há tempo de ser gente nessa presente sociedade doente, desumana, impura e carnal. E, então, existir sem se limitar ao superficial, ao exibicionismo vazio e indiferente. Ousemos ao amor vez que amar já até parece atrevimento.
A permanência exclusivamente na glória não existe, é cenário. Ninguém passa por aqui sem dor. Ledo engano imaginar-se inatingível. De fato, amar é caro, diferente da opção de vida fugaz, mas, queira ou não, a vida é de verdade e vai sentir seus efeitos, admita ou não. Ocorre que, existindo de verdade, não perecerá ao ocaso infinito dos vazios. Certo que amar com compaixão, longe do egoísmo, não é para os fracos.
O efêmero incessante cansa e conduz ao momento que o demônio sedutor vem rir das nossas fantasias materiais no equívoco da felicidade perene. Vai ridicularizar as rugas, cujo disfarce constante fica nas falsas imagens de “Photoshop”, vai caçoar na nossa despedida final dos bens materiais que ficam, vai escarnear pela nossa dor na ausência do olhar verdadeiramente amoroso que não obtivemos ou pela nossa carência da afetuosa mão com o carinho dos amigos de verdade. Afinal, não podemos nos esquecer, somos Alma.