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Bodas de ouro

Ricardo Motta
Publicado em 28/12/2022 às 19:12Atualizado em 29/12/2022 às 07:36
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Novamente diante do altar. Comemoravam Bodas de Ouro. Renovaram os votos. Não sabiam bem como conseguiram, mas lá estavam. Trocaram um brilhante olhar de vitória, memoravam quimeras de um amor lúdico que, ao decorrer da vida, não amadureceu. Atrás, a família, grande prole que gerou muitos descendentes. O certo é que, de fato, era motivo de alegria, de se celebrar.

Até chegar lá, foi duro, embora preferissem poder dizer que nunca houve tormento, incompreensões, intolerâncias. Gostariam de manter sempre presente o ardor do início do amor, que definitivamente jamais vence a força da desgastante sequência cotidiana. Dentre alegrias, infiltraram-se dificuldades financeiras e sentimentais. Muitas vezes, houve vontade de desistir por decepções, pelo cansaço do recorrente perdoar, pelas desilusões. Tantas, cujas feridas e dores, tão marcantes, quase se equivaliam em proporção às alegrias, que eram numericamente bem maiores.

Afinal, as dores forjam cicatrizes por mágoas, as alegrias vão passando. Mas houve o elo dos filhos e um amor fundamental, que, muitas vezes oculto, mantinha um invisível liame íntimo que permitira chegarem ali. Era aquele referido amor lúdico, que felizmente não amadureceu para se submeter ao sensato crivo da criteriosa consciência. Não precisamente pelos caminhos desejados, concluíram reais os desejos do casamento longínquo. As flores das primeiras núpcias murcharam logo, afinal a vida não é somente primavera. O certo é que aquelas bodas eram a consumação de mais um novo florir no giro das estações da vida. É seguro, quem não tolera não prospera! Ela se sentia vitoriosa sobre todas as tentações que se coloraram no caminho dos dois.

Ele, triunfante, por parecer um reto jequitibá esteio de família. Os filhos, para não mancharem o momento, espantavam do pensamento relances de recordações por inúmeras brigas que quebravam o silêncio das tenebrosas madrugadas. Mas, enfim, estavam ali em festa e, àquela altura, o casamento tornou-se mesmo um fato consumado, solidificando, a rigor, o calor dos corpos ardentes da juventude, do recebimento dos rebentos à luz, da construção de pilares invisíveis que suportaram todas as intempéries. Ao encerrar da cerimônia, trocaram um tradicional beijo, agradável, simbólico, tão fugaz quanto a vida. Afinal, a vida é de verdade. 

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