Estrela na testa

Havia algum tempo que especificamente um sujeito vinha furtando gado no município de Uberaba. E, pelo que foi apurado, tinha uma habilidade extraordinária em descarnar uma rês. Fazia o serviço em pouco prazo, o que permitia fuga bem antes que se desse pela falta da rês. Certo dia, enfim, foi preso. Levado a julgamento, durante a audiência de instrução, foram ouvidas testemunhas que deram conta da habilidade do gatuno. Ouvido, confessou, com certa indiferença, e até com alguma naturalidade. Pelo modo do depoimento, poderia ser considerado um escárnio com a Justiça, ou também revelar uma condição de alheio ao regular. Acontece que a rês que o sujeito havia abatido dessa vez não era nada comum, aliás, era bem extraordinária. Segundo apurado nos autos, tratava-se nada mais nada menos que a Vaca campeã nacional da última ExpoZebu. Animal de renomado criador, com marca nacionalmente reconhecida. Tinha alta valorização. Diante daquela situação inusitada, o juiz dirigiu-se ao agente, o réu, e perguntou se, por acaso, sabia que abatera uma vaca campeã nacional, de qualidades inestimáveis, especialmente pela genética. Neste instante, o distraído acusado levantou a cabeça e até mostrou uma alguma perplexidade. Respondeu: – Foi mesmo autoridade? Nem creio que fiz isso. O juiz, com a fisionomia fechada, retrucou: – Pois fez! Logo, replicou o réu: – Desculpe-me, autoridade. Eu não sabia. Ela não tinha “estrela na testa”! Soubesse, mataria a outra que estava ao seu lado. Mas sem carne não como não! Resultado: o juiz suspeitou da integridade psíquica do sujeito pelo modo surreal da resposta. Determinou que fosse submetido a exame de sanidade mental. Passou algum tempo no manicômio. Não deu outra. Meio doido. Pagou sua pena e sumiu sem deixar rastro.