A ilusão acabou... cantava o poeta Cazuza. Ela, mesmo como abstrato imaginário, existe e causa efeitos. A propósito, há muito um primo vinha assustando o outro, que tinha medo de Lobisomem. Divertia-se. Para tanto, à noite, lançava pedras contra a janela de madeira do quarto da antiga casa da fazenda em que seu primo dormia. Uivava nas noites de lua cheia. Criava todo o meio para afligir o primo medroso. Deleitava-se ao ver o drama do primo, horrorizado pelo terror do Lobisomem. Temeroso e crente sincero na existência da fera naquelas bandas, o primo ameaçado, sentindo-se acuado, acabou por se armar para se defender do Lobisomem, que cria efetivamente ser real. Secretamente, levou para seu quarto a espingarda cartucheira que havia na casa. Até que, novamente, o Lobisomem veio ao anoitecer. Uivou forte e longamente, beirando a casa. Depois, sacudiu o pé de laranjeira e urrou. Qual não foi a reação do aflito primo, apavorado pelo medo. Lançou mão da espingarda e mandou chumbo grosso no rumo da laranjeira. Um grito de dor ecoou, cessando o uivo. Os parentes, atraídos pelos sons, aproximaram-se. Lamentavelmente, encontraram morto o primo tão querido. Enfim, matou-se a ilusão. Houve processo criminal, com absolvição ao final. Ilusão ou não, pelo remorso, o atirador sobrevivente jamais se livrou do fantasma do Lobisomem.