Adoniram cantava Vinicius. “Bom dia, tristeza / Que tarde, tristeza / Você veio hoje me ver / Já estava ficando / até meio triste / de estar tanto tempo / longe de você...”. – Embora indesejada, tem hora que a tristeza é amiga, quem diria? Há quando surge do nada, depois se vai em silêncio, deixando marcas ou não. Sempre é dolorida, machuca, magoa. De tempos em tempos, ocorre até sem prenúncio. É caprichosa! Mas má, de fato, não é. Há quem a prenda e tente viver sempre com ela. Há até quem seja apaixonado por ela. Porém, disso ela não gosta. Prefere livremente se instalar e sair, porque se cativa perde a razão. Sabe que tem que ser alternada. Tem sina de ensinar, não de destruir. A rigor, não quer finalizar, objetiva estimular recomeços. Enfim, ama como palmada de pai. Às vezes, chega de mansinho, como ao ensejo do nada, mas sempre tem seu motivo. Quando vem com força, estrondosa, dá lição não só a quem diretamente atinge. Estende-se aos que estão ao redor. Quando se situa sorrateira, quer ser amiga, fazer refletir, atiçar sentir os sentimentos, avaliar a própria alegria, questionar. Afinal, como a alegria se mostra bela, e nem sempre verdadeiramente o é, ocorre à tristeza pedir um instante para afastar a ilusão e mostrar quanto importante também ela é. Propõe que se entenda o tempero, a magia do contraste, o equilíbrio. É certeza, alegria demais inebria, até cega, distrai, não estimula meditação. Contudo, que surpresa, a tristeza ama a alegria. Queria ser ela, que é muito mais leve. Todavia, é consciente. Sua sina, seu dever, seu ofício é fazer pensar, amadurecer, para que se adoce o fruto e a real alegria possa assim se fazer. Ouse. Sem temor, tente estabelecer amizade com a tristeza, ciente de que tudo passa. É regra nesse universo do viver. Aceite ou não, um dia ela vai ter com você. Então, cresça da sua tristeza. Seguramente, como tudo, também tem sua razão de ser.