RICARDO MOTTA

Os Três Porquinhos

Ricardo Motta
Publicado em 15/04/2023 às 18:46
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A máxima de que o importante é ser feliz refere-se à felicidade verdadeira, a alcançada por meios sadios, não à alucinógena ilusão de felicidade. Ao tempo atual, porém, estão estabelecendo que é proibido sofrer. Não se pode sentir qualquer contrariedade, qualquer dissabor, qualquer tristeza, frustração, demérito, desilusão, como se isso fosse algo possível. O dia não existe sem a referência da noite ou vice versa. Já cedo os pais imprimem essa crença nos filhos. Decorre que, diante de eventual contrariedade, nasce um sentimento de desespero. Qualquer situação adversa é bastante para se encaminhar filhos aos psicólogos, infelizmente visando mais uma terceirização da educação. Comum também que os próprios adultos se socorram com os analistas, não raro visando mesmo o preenchimento de vazio por sentimentos de impotência existencial e, verdadeiramente, buscando assumir a própria conduta. Tenta-se, igualmente, terceirizar as definições da vida. Há ainda a fuga pelo entorpecente. A rigor, o que se pretende é encontrar solução pronta para a própria existência. Tudo tangente. Mediante fácil leitura, os livros atuais, na sua maioria, superficialmente juram êxito sem labuta. Músculos e vigor sem esforço, riqueza por milagre, felicidade por fantasia. A juventude eterna e a beleza perene são o ícone da promessa. Como se a velhice fosse contornável. Surgem arremedo de mocidade, muitas vezes por ridículos estereótipos. Ao contrário, as fábulas do Esopo, antes tão apreciadas, igualmente brandas, buscavam evidenciar a realidade. Tinham, entretanto, a virtude de propor boas lições éticas e morais. Aliás, dentre tantas, na conhecida estória dos Três Porquinhos, a sugestão direcionada é a construção de uma casa de pedra, como do Pedrito, que, após esforço, se solidificou capaz de suportar intempéries e ataques do impiedoso Lobo Mau. Todavia, hoje o que se vê, muito ao oposto, é a regra sugestiva somente da construção da frágil casa de palha, como a do Palhaço. Por isso tanta insubsistência subjetiva para autoproteção, porque, na verdade, a alma anda resguardada por essas vulneráveis casinhas de palha, insubsistentes a qualquer sopro do mau. Então, que mudemos o rumo e comecemos a carregar alguma pedra.

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