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Relógios

Ricardo Motta
Publicado em 26/10/2024 às 17:51
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Noticiava com ênfase a reportagem que roubaram à mão armada um relógio caríssimo de um jornalista. E por ser um colega, permitiram-lhe narrar indignado o episódio, não sem razão. Descreveu minuciosamente a ousadia e agressividade do agente criminoso. Contudo, chamava a atenção que a vítima não tinha evidência alguma de recursos para possuir como seu um relógio de valor tão extraordinário, muitos mil dólares, a não ser que o tivesse adquirido numa espécie de receptação, ainda que disfarçada. Todavia, aquela peça foi tomada em assalto exatamente para alimentar o sórdido mercado ilegal. Um círculo vicioso. A situação praticamente empata os envolvidos, ladrões e receptadores. Interessante refletir que aquela valiosa e, por isso, cobiçada joia, marca a medida do tempo com a mesma precisão que algum suíço qualquer, de aço comum. Então decorre que a intenção do usuário portador da peça rara não é propriamente o benefício da utilidade do objeto. Em verdade, a intenção é exibir, alardear, poder financeiro, ainda que apoiado em falsa aparência. Impressionar, nesse mundo que valoriza sobretudo o vil metal. É que haverá o tempo em que o relógio vai parar para si, seja de ouro, prata, aço ou singela ampulheta. Esse será o tempo do fim para qualquer marcador. Então, todo o tempo, seja medido como for ao passar e repassar do sol, encontrará a morte, que não levará consigo preciosidade material alguma. Lamentavelmente, somente então os ostentadores, presos à esfera da dimensão material, poderão compreender o ciclo perdido entre joias de ouro e brilhantes que não os sublimarão a lugar algum. Rica joia, pobre ostentação!

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