Trabalho, trabalho mesmo, eu comecei em 1975. Até então ganhava algum de minha mãe...
Trabalho, trabalho mesmo, eu comecei em 1975. Até então ganhava algum de minha mãe nos finais de semana, ou fazia alguns biscates que garantiam o matinê no Metrópole. Em compensação, desde aquele longínquo ano, nunca mais parei!
Devo ter atravessado por umas seis ou oito crises. Bem mais de uma vez já vi empresário levar as mãos à cabeça e assegurar: “agora o Brasil acaba!”. Qual o quê... o país, numa repetição da teimosia de Galileu Galilei, continua se movendo.
Planos econômicos? Uns quatro! Mudança do cruzeiro para o cruzado; fiscais do Sarney; congelamento do Collor; cruzado virando real com FHC... E tome crise!
Com a cautela que o tempo ensina, vi o Lula chegar ao poder por entre muitos aplausos vermelhos e chiadeira tucana. Quando comecei a me empolgar com os números do PIB (o tal “crescimento chinês”), lá vem de novo a bancarrota!
Entre apreensivo e divertido, assisti a palhaçada congressual do impeachment da Dilma. Pela TV fechada acompanhava os discursos inflamados de rematados ladrões, diversos pulhas, escrotos e muitos corruptos desavergonhados. Todos bradando pela ética e moralidade...
Sinto-me hoje membro de uma imensa horda de idiotas que, por não ter como interferir, segue trabalhando e pagando os tributos que serão gastos na latrina chamada “poder público”.
O João Roberto, meu vizinho, foi mandado embora do emprego há mais de mês. Vendeu o carro. Agora é a vez da casa. Vejo-o cabisbaixo atravessar a rua. Um homem que sai cedo de casa sem ter absolutamente aonde ir.
Abro os jornais. O Temer encontrou a fórmula de cobrir a gastança pornográfica do “poder público”. O imposto de renda vai saltar de 27,5% para 35%... A horda paga. Num rodapé de página uma notinha mostra a Dilma fazendo compras em Ipanema.
Os tribunais de todas as matizes e gostos (Justiça, Trabalho, Eleitoral, Federal, Supremo...) entram na pândega, com salários e despesas astronômicos. Autoridades policiais fazem de conta que mandam nos presídios. De dentro das grades saem as ordens de como devemos nos comportar nas ruas, por onde andar, como nos defender. Nas escolas, uma nova onda entre alunos: espancar professores.
Fecho o jornal e também os olhos. Já vi muita coisa nesta vida. Já vi anjos que se levantavam para dar lugar no ônibus; já vi jovens que se ofereciam para ajudar idosos a atravessar a rua... Sinto um toque no meu ombro, abro os olhos. É o Júnior, meu filh “Paizão, eu e minha mulher já resolvemos, estamos de mudança para o Canadá!”.
Tento ser jovial, utilizar a linguagem deles nos dias de hoje: Meu filho... demorou!