Claro, haverá sempre os que dirão ser louco o articulista. Só loucos de pedra se atrevem a escrever para vegetais. E você, colega, nada mais é que iss um reles vegetal projetado pelo Criador para sombrear no verão e, na primavera, parir suas sementes que prolongam a manutenção de sua espécie por aqui, neste nosso amalucado planeta.
Dirijo-me a você, rubiácea anonymus (chamo-a assim por não saber sequer qual era sua espécie) que estragou a linda tarde de domingo de alguns moradores da rua Hildebrando Pontes. Estabanada e muito provavelmente embriagada de orvalho, fez com que suas raízes se desprendessem do solo e arremeteu seu imenso corpanzil à rua, levando de roldão fios da Cemig, telhados ensolarados, encanamentos preciosos...
Vocês, vegetais imbecilizados pela natureza, não falam, não se comunicam, não entendem que estamos vivendo em plena era da globalização cibernética. Comunicar-se (na velocidade da luz) é indispensável atualmente em nosso planetinha!
Tivesse você um mínimo de instrução, colega, saberia que a física e a geometria não admitem vacilos geoespaciais como o seu. Explico-lhe, obtusa: toda árvore, de qualquer espécie, tem como plano de equilíbrio ideal a similaridade de seus extremos... Você não entendeu nada... Explico de nov o ideal é que o perímetro de sua copa fosse o mesmo ocupado, lá embaixo, no solo, por suas raízes.
Isso lhe daria equilíbrio, lhe daria robustez suficiente para não provocar o desastre imperdoável de tombar agonizante! Como todo ser desequilibrado, você não imaginou os imensos prejuízos que causaria à nossa íntegra, excelsa e incorruptível companhia de força e luz... Coitada da Cemig! Foi danificada por uma árvore!
E tem ainda o estrago provocado na via carroçável! Caso você não houvesse se convertido numa defunta, e depois retalhada a golpes de motosserra, bem que merecia ser penalizada pelo pessoal do uso e preservação das ruas. Deviam impingir-lhe uma multa exemplar por perturbar de tal forma nosso domingo!
Eu sei que, em sua defesa, virão alguns desses ideólogos da natureza lembrar-me que suas raízes apenas não se abriram em copa, sob o solo, porque o concreto e a pavimentação vedaram-lhe os caminhos.
Mas isso não é desculpa! Você deve ser uma dessas espécies rapapés, de pobreza imensurável e, portanto, de raízes fracas...
No mesmo domingo, pela manhã, este mesmo escriba tomando o sagrado chopinho no belo boteco do Molinar, fitava uma parente sua, fincada próximo ao palco da Concha Acústica. Ela está bem na esquina do “mezanino” sob o palco. Deve ser outra estúpida, da sua espécie. Séria candidata a perturbar nossos domingos!
Aconselho motosserra... ou golpes de machado. RIP!