Nunca vi em nenhum noticiário uma pesquisa dizendo qual o número de pesquisas que impactam um cidadão no decorrer de um dia.
De minha janela vadia, aberta de par em par por sobre as rosas da floreira, fico olhando o passar das pessoas e criando minhas estranhas estatísticas.
– De cada dez mulheres, eleitoras, independente de cor, religião e casadas, pelo menos sete já consideraram uma aventura extraconjugal.
– De cada vinte adolescentes, idade máxima de dezessete anos, independente da área residencial, trajando o uniforme do colégio, seguramente dezenove não sabem em qual estado da federação situa-se Brasília.
– Apesar de ser nove horas da manhã, trinta e um dos quarenta e cinco adultos, do sexo masculino, gostariam de um bom gole neste momento.
– De cada doze motoristas, maiores e habilitados, enfileirados naquele semáforo, pelo menos cinco estão com o IPVA atrasado.
– Entre os mesmos doze motoristas, nenhum consegue traduzir inteiramente o que está escrito na placa do mendigo venezuelano.
– Apenas uma, entre as quinze idosas, casadas ou viúvas, acima de sessenta anos, jamais teve um desentendimento sério com o marido.
– De cada oito idosos, na mesma situação, todos os oito quiseram ficar com a última palavra!
– Quatro em cada quatro bancários, maiores e de ambos os sexos, já pensaram seriamente em mudar de profissão.
– Dos cinco casais que passaram lado a lado, independente de cor, raça ou religião, apenas um estava de mãos dadas. Era o que não tinha alianças.
– Dos três executivos, de terno e gravata, com faixa de renda nível “A”, pelo menos dois estão sonhando com uma praia e chinelos.
– Entre os seis cães vadios, identificados aleatoriamente, que corriam alegremente abanando o rabo, o percentual de castrados é zero.
– Das dez mães afobadas, casadas, do lar, puxando carrinhos de escola e meninos pelas mãos, cem por cento demonstram sinais de esgotamento.
– Das dezoito pessoas, de todos os sexos, que passaram sorrindo, seguramente nenhuma ouviu as notícias do dia.
– De cada dez jovens, faixa etária entre treze e dezoito anos, que passam sorridentes falando ao celular, sete não estão falando com ninguém.
E, embora não passem por minhas vistas, creio que de cada cem mil homens, maiores, ocupados, em idade ativa, apenas um encontre tempo, num dia útil, para se debruçar em janelas e criar estranhas estatísticas!
Tharsis Bastos
