- Na Dilma????? Nem pensar...!
- Aécio???? Marina Silva???? Tô fora!
Não é difícil nos depararmos com essas reações de amigos que, desanimados com a política e os políticos, asseguram uma breve e futura anulação do voto.
Existem mesmo movimentos e campanhas através da rede de internet fomentando o voto nulo, como verdadeira sinecura para todos os (muitos) males do país.
A revolta com “tudo que aí está”, tem o condão de cegar eleitores, mesmo alguns esclarecidos e bem articulados.
A pessoa estufa o peito, engrossa a veia do pescoço e afirma de alto e bom som: “Eu anulo mesmo!”.
Agravando o quadro, a legislação brasileira fez do ato de votar uma excrescência: é obrigatório, pero no mucho...
Não votar, não comparecer às eleições, justificar a ausência, são opções que não geram qualquer punição de maior peso ao eleitor. As multas previstas pela omissão são risíveis. Como diziam os antigos, dinheiro de pinga. Estimula a ausência.
E, não nos esqueçamos, existe ainda aquela geringonça eletrônica, chamada urna eleitoral, que chia, buzina e apita... Uma “trapizonga” modernosa sempre a inspirar desconfiança quanto à sua vulnerabilidade. Estimula a nulidade.
Mas tantas e tão absurdas situações, nada significam perto do maior incentivador do voto nul Ele, o mãozinha de rato, o sacripanta engravatado, o ladrão descarado que faz da vida pública o multiplicador de seu dinheiro e patrimônio.
Furta, de modo amplo e à luz do dia, o sovado dinheiro da lavadeira de roupas, que o leva embolado e suado dentro aos peitos, para quitar o imposto predial...
Almeja de forma intensa, que lhe caia em plenário o projeto de lei ou o decreto, que irá possibilitar a maquiavélica produção de dificuldades, para a posterior venda das facilidades...
Sussurra em gabinetes herméticos os percentuais obscenos da malandra comissão trocada pelo superfaturamento da obra ou pelo desvio na entrega da merenda escolar ou do remédio.
É... É ele, o meu irmãozinho em Deus, o rato abjeto que cansado de buscar inutilmente pela vida algo que lhe gerasse dinheiro – sem ser o trabalho – candidatou-se a ilusionista. Manipulador da fé alheia. Escroque do discurso fácil. Ladrão, em suma.
Por ver – e não deglutir – tantas falcatruas, é que alguns cidadãos batem à mesa e proclamam a sua brilhante e egoística soluçã anular o voto!
Porém, perdão amiga, lamento amigo, é uma saída equivocada...
Equivocada porque, da forma esperta como foi elaborada (tudo é esperto neste meio) a legislação eleitoral nunca irá anular uma eleição por excesso de votos nulos. Matematicamente seria mais fácil, por exemplo, você acertar na mega por dez vezes... Consecutivas!
Equivocada porque não existe no país um clima social, um ânimus, nem condição intelectual para se protestar pelo voto.
E mais ainda equivocada, finalmente, porque ao anular o voto, o indignado eleitor está simplesmente elegendo o candidato que é o primeiro da lista... É uma conta tão óbvia que só mesmo a cegueira da revolta não o deixa ver.
Chegamos então à equação mais perversa: Concedo meu voto ao ladrão X ou anulo o voto e assim ajudo a eleger o ladrão Y?
Quero lembrar aqui uma frase que me foi dita, anos atrás, por quem conhecia bem este meio. Um político já falecido chamado Raul Décio de Belém Miguel. Ele me disse:
- “Democracia é isso mesmo. Muitas vezes, o povo erra ao votar. Mas depois, com o próprio voto, ele retorna às urnas e conserta o erro”.
É assim, nas tentativas, que precisamos escorar a esperança.
Esperança de que um homem de bem, um patriota, se apresente neste cenário infestado por roedores bípedes.
Não é fácil. Normalmente os homens de bem fazem campanhas modestas... Normalmente não se animam apresentar-se à vida pública, que deveria significar o sacrifício de uns poucos pelo bem estar da maioria.
Acreditar não é fácil. Porque a cada desilusão ficamos com aquela dolorosa sensação de termos sido feitos de palhaços. A esperança é um exercício ingrato... Mas é bem mais coerente, bem mais lúcido e muito mais inteligente do que simples e comodamente anular o voto!
(*) Jornalista