Minha editora querida
A vida tem sido ingrata
Veja o quilo de batata
Olha a dose de batida
Tudo pela hora da morte!
Já rezei, já fiz novena
Já tentei a Mega-Sena
Mas confesso, não dou sorte!
Os boletos chegam em casa
Sem parar, o dia inteiro
É de janeiro a janeiro
Com ameaças do Serasa!
Nunca vi tanto papel
Taxas do PIS e do SUS
IPTU, água e luz
IPVA, aluguel...
Se eu não pago, tô ferrado!
Se pago, fica a suspeita
Que o destino da receita
É bolso de deputado...
Gasolina, vi o letreiro
E quero que alguém me prove
Se três nove, nove, nove
Existe em nosso dinheiro!
Meu automóvel apodrece
Faz tempo que não vê óleo
O pneu, então, nem olho
É um carro movido a prece!
A patroa diz baixinho
Que banho agora é alternado
À noite, tudo apagado
Em vez de janta, chazinho...
Como não há nada que sobre
Chegou outro dia aqui
Reclamação do gari
Que meu lixo “é muito pobre”!
Querida editora, as minhas
Lamentações e um gemido
Envio-te, como pedido
Em exatas quarenta linhas!!!
Tharsis Bastos
Jornalista