Ele é seguramente, nos últimos dois mil anos, o homem mais comentado nesta porção...
Ele é seguramente, nos últimos dois mil anos, o homem mais comentado nesta porção ocidental do planeta. O filho do carpinteiro, conhecido como Yesu (em aramaico); ou Yeshoua (em hebraico) ou, para nós, Jesus. É a maior celebridade das nossas redes sociais. É destaque internacional em dezenas de países e exerce poderosa influência no pensar e no comportamento humano.
Tento vê-lo em seus trajes simples. O “vestidão”, aquela camisola de linho usada pelos judeus, com o manto de lã que compunha o modelito da época. O cinto (talvez de couro) muito longo que dava várias voltas à cintura. As sandálias, também em couro, ou pano, para proteger os pés das longas caminhadas.
Imagino-o acariciando crianças, ou, chicote à mão, chutando barracas de camelôs do Templo. Mas o que mais me intriga neste filho da região de Samaria são suas palavras, que nos chegam narradas por escribas diversos, porém sempre num mesmo sentid “Abandonem esses velhos ensinamentos de um Deus de ira e vinganças. Abracem-se uns aos outros. Pratiquem o perdão, façam da humildade um caminho e julguem menos, lembrando-se que, um dia, todos serão julgados”.
Moreno? Nariz adunco dos judeus? Cabelos crespos de um palestino? Louro de olhos azuis? Sua imagem física se perdeu com o tempo e a grandeza de suas palavras fez com que pintores famosos, escultores, cineastas nos legassem imagens diversas.
Na esmagadora maioria das vezes é retratado sério, contemplativo, sisudo... Não me lembro de nenhuma passagem dos testamentos onde se leia algo dizendo que Jesus sorriu...
Este moço judeu, morto aos 33 anos, pode não ter sido a figura exemplar que nos ensinaram. Talvez seu dia a dia tenha sido bem mais prosaico do que queiram nos incutir. Mas não posso deixar de levar a sério um apostolado que nos é contado com palavras diferentes, porém com mesmíssimo teor! O médico Lucas, o tribuno Saulo, Matheus, Thiago... Todos se repetem.
Perturba minhas reflexões lembrar ter este samaritano afirmado constantemente que era, sim, o “filho do homem”, era ele o filho de Deus.
Não consigo tirar a razão dos seguidores de Caifás, que se assombraram ante o escândalo. No tempo em que tal afirmação foi feita, blasfêmia é um termo muito tímido para resumi-la.
Mas também não consigo superar, no meu íntimo, a admiração de ver um homem defender suas ideias e repetir coerentemente suas verdades, levando-as até o suplício da crucificação, da morte em execração pública.
Crer ou não crer compete a cada alma. Sei apenas que ELE acreditou! De minha parte, do fundo de minha pequenez humana, apenas consigo concluir: quem sou eu para dizer o contrário?
(*) Jornalista