Aproveito a letargia da tarde de sábado para dar continuidade à leitura do meu Helio Gaspari, que finalmente resolveu terminar sua série de livros, contando a aventura dos governos militares que por 21 anos mandaram (ou desmandaram, para alguns) no país. É o quinto livro da série. Este é o “A Ditadura Acabada”.
Leitura obrigatória para quem quer entender os porquês do surgimento do regime militar em 1964 e também o maior porquê de seu sepultament economia nacional aos frangalhos.
Como na maioria dos livros que leio, utilizo meu método “vaivém”, saltando do primeiro para o quinto capítulo, voltando ao segundo e assim por diante.
Na tarde modorrenta do sábado, abri o capítulo que narra uma linda quadra de nossa História: a aglomeração de praticamente todos os brasileiros em torno de um único pedido – Eleições diretas já!
Voltei aos meus 30 anos, quando o coração acelerava com facilidade e a imaginação ainda era movida a asas. Acompanhava “roídasunhamente” as manchetes da época. Os primeiros ajuntamentos nas capitais brasileiras, a quase obrigação de nos vestirmos de amarelo.
Ouvia, embevecido, as explicações de Ulysses Guimarães de que, sim, era possível convencer parte da bancada governista no Congresso, obter-se os dois terços almejados e aprovar a emenda à Constituição, proposta pelo barbudo deputado mato-grossense, Dante de Oliveira.
Segundo Ulysses, a única marreta capaz de vergar o aço da fidelidade partidária do PDS era a mobilização popular. O clamor das ruas.
Nas páginas de Gaspari reencontro o locutor Osmar Santos, apresentador oficial dos megacomícios; nomes que estavam ajuntados aqui, num cantinho qualquer da memória: Franco Montoro, Brizola, Tancredo, Luiz Inácio, Sônia Braga, Gonzaguinha...
Naquela pré-estreia da explosão de civismo, que aconteceria dias depois no Rio de Janeiro, o Comício da Praça Sé quase me fez levitar de emoção. Lembro o Chico cantando “Apesar de Você”; uma multidão de vozes entoando nosso Hino; a Fernanda Montenegro pedindo ao general Figueiredo que desse esta anistia (as diretas) ao povo brasileiro e depois, emocionada, foi chorar atrás do palanque.
Fecho o livro com um nó na garganta. Estou aqui pensando no Lula, no Sergio Cabral, no Palocci, no PT, no PSDB, no Azeredo, no Zé Dirceu, no Aécio, no Pimentel...
O que faltou? Onde erramos? Naquele distante 25 de janeiro de 1984 estávamos certos e seguros de que seria reinventado um país. Seria construída uma nova nação, de homens e mulheres do bem, amantes da liberdade e do trabalho honesto.
Poucas vezes em nossa história nos mobilizamos tanto. Poucas vezes lutamos tanto.
E chegamos a hoje. Chegamos à notícia de quarta-feira passada de que um grupo de nossos patrícios invadiu o plenário da Câmara Federal e fez um forte protesto, exigindo que o Brasil seja governado pelos militares...
Tanto... pra nada!