O Brasil é um projeto fracassado.
Você viu o homem feliz?
O Brasil é um projeto fracassado.
Começou sem qualquer planejamento. Depósito para facínoras, jamais foi visto como possessão possivelmente habitável.
Precisamos reinventar o Brasil. É tarefa para a geração deste novo século.
Das capitanias para cá, pouco ou nada foi mudado. A escravidão, adotada e abolida, mantém-se aí, firme, acorrentando trabalhadores a salários obscenos. Um país onde um professor ou um engenheiro ganham menos que um promotor de justiça tem alguma coisa errada.
Desde a farra nepotista das capitanias, o jogo das elites é intocável. Migram os séculos, mas a miopia permanece.
Incapazes de ceder à inteligência, os neo-mulatos bilionários que comandam o país não conseguem perceber que a podridão ao derredor acabará por tragar também a todos eles.
Nenhuma diferença entre os sinhozinhos de engenho de ontem e os sinhozinhos de empreiteiras atuais. Nenhuma similaridade social é admitida. A casta maior (5%, 6%?) nutre-se do trabalho da prateleira de baixo.
Cerca de três vezes e meia do déficit do sistema previdenciário poderiam ser cobertas apenas com o recebimento da lista de inadimplentes. Dói saber que essa lista é composta (quase 85%!) pelo sistema rentista. No entanto, mais uma vez, a conta vai sobrar para os que menos comem (e, portanto, menos brigam).
O abismo social, de per si, já seria argumento pra lá de convencedor do fracasso de nosso modelo. Porém, numa ganância digna de Sérgio Cabral, os novos baronetes da pátria madrasta seguem espremendo a fruta, já esmaecida e frouxa. Trituram o caroço para ver se rapam ainda um pouco do adocicado néctar da fortuna.
Enquanto isso, o pão é mal distribuído. O ralo e suado dinheirinho arrancado compulsoriamente dos modernos escravos, à guisa de taxas e impostos, é absorvido por uma estrutura governamental apodrecida, carcomida pelos anos. O que retorna sob a forma de serviços é bem pior que os restos que atiramos aos cães de rua.
Novos Cains deste triste tempo, os patrícios um pouco mais abastados, da chamada “classe média alta”, torcem o nariz aos que clamam por mais justiça social. Leem um artigo como este aqui, fazem careta e traem seus irmãos mais pobres, sob o execrável argumento repetido há séculos: “coisa de comunista”!
Precisamos reinventar o Brasil. Criar uma nova Nação. Dar aos nossos filhos e netos o direito de, pelo menos uma vez, ao longo deste meio milênio, habitarem uma potência competitiva e respeitada no cenário internacional. O modelo pode (e até deve) seguir os parâmetros modernos do atual “capitalismo de mercado”, mas algo precisa ser feito. E urgentemente!
Mas, para isso, é preciso que aprendamos a votar. A escolher com precisão e olho clínico nossos futuros governantes.
Há muitos anos atrás, um poeta russo escreveu que em algum lugar do planeta (talvez no Brasil, dizia ele) existe um homem feliz.
Lamento, caro Mayakovsky, não é aqui... Ainda não!
Tharsis Bastos