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Você vive pra consertar?

O comodismo é refúgio da incompetência

Tharsis Bastos
Publicado em 07/08/2014 às 20:48Atualizado em 17/12/2022 às 09:50
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O comodismo é refúgio da incompetência.

Quando as soluções exigem um pouco mais de dedicação, ou trabalho, há um certo tipo de pessoa que faz a opção pelo mais fácil. E mesmo se o “mais fácil” significar fugir ou morrer, tomam este caminho com a mesma desfaçatez com que viveram ou se arrastaram pela vida.

É assim que estamos assistindo, dia após dia, a toda hora e por todo lado, o convívio social se evaporar nas comunidades, dando lugar a cercas elétricas, microcâmeras e todo um inferno de geringonças tecnológicas destinadas a ilhar cada vez mais o ser humano.

Educar as gerações, lutar com todas as forças pela vitória da delicadeza e do afeto nas relações, dá trabalho demais! Mais fácil é convencer-se do erro bíblic que fomos feitos à imagem e semelhança do capeta e que o mundo é mal por essência...

Aqui mesmo, na nossa Uberaba, onde tenho passado uns dias por força do ofício, volta e meia encontramos exemplos desta frouxidão nefasta, que vai tomando conta de nós todos e fazendo-nos optar pelo mais fácil.

Os meninos do Grupo Escolar, o Prefeito, os senhores vereadores, o padre e o juiz, todos estão cansados de saber que cometemos uma heresia inominável quando mandamos sepultar nossos córregos.

Ao invés de os mantermos limpos, despoluídos e decentes, fluindo por suas calhas naturais e protegidos por sua vegetação ciliar, fizemos o mais fácil: entubamos tudo! E hoje, continuamos a optar pelo mais fácil. Deixar como está...

Ali no cruzamento da avenida Leopoldino com a Fidélis Reis, talvez a nossa mais importante confluência viária, a ilustre diretoria da Empresa de Correios e Telégrafos nos deu um belo exemplo dessa frouxidão epidêmica.

Ajudando os transeuntes a se orientar no tempo, assentava-se sobre a fachada principal um relógio, com duas faces gêmeas, uma voltada para cada avenida. Certo dia, acredito, o regulador de tempo sofreu alguma pane em seu mecanismo. E o que fizeram nossos companheiros, nossos sócios na leniência e no comodismo? Isso mesm arrancaram o relógio, deixando o nada em seu lugar...!

Geraldo Vandré, em sua imortal “Disparada”, canção vitoriosa do festival da Record nos anos 60, escreveu uma frase admirável: “Eu vivo pra consertar!”.

Como está se tornando cada dia mais difícil encontrar homens (e mulheres) com esta definição e com este propósito de vida!

Por sorte, embora cada vez mais raros, volta e meia encontramos alguns exemplos que nos animam e nos dão força para continuar trilhando o caminho dos que preferem consertar. É o caso que anotei aqui mesmo, na nossa Uberaba.

Meses atrás, por algum motivo que não me recordo mais, precisei me dirigir à companhia habitacional da cidade, a Cohagra. Deparei-me com uma multidão de pessoas, apinhadas numa varanda imunda. Lixo e sujeira por toda parte. Não havia um mínimo de conforto seja em forma de cadeiras, banheiros, seja em forma de água ou mesmo de tratamento humanos. Saí de lá horrorizado.

Considerado um ótimo celeiro de candidatos (eu ia dizer valhacouto...), aquela empresa na ocasião me sugeria a eterna frouxidão a impelir pelo mais fácil. Talvez a volúpia por votos, levando o atendente a priorizar a quantidade em detrimento da qualidade.

Nos dias atuais, ainda por necessidade, voltei à Cohagra. Deparei-me com um ambiente calmo (embora lotado), paredes limpas e pintadas, atendimento rápido, tratamento digno. Pensei comig aqui tem um dos meus! Tem um desses caras que são teimosos e não marcham com a maioria. Um dos que vivem pra consertar!

A empresa saiu das mãos da politicalha e caiu nas mãos de um técnico! Ou seja, não está fazendo do órgão público o objeto pusilânime dos que iludem o populacho, dizendo “doar” ao ignorante aquilo que, ignorantemente, ele mesmo pagou!

Gostei do que vi. Parabenizo quem comanda. E estendo os parabéns ao Prefeito, que desta vez não foi burro. Além de estar atendendo magnificamente a seu patrão, o povo, teve ainda a inteligência de ficar com o mérito do feito (e os votos), visto que os técnicos não se preocupam com o retorno político... Longa vida aos que vivem pra consertar!

(*) Jornalista

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