ARTICULISTAS

A literatura infantil: do Brasil para o mundo

O amadurecimento profissional na área se deve a significativos investimentos e cuidado das editoras, ao levarem a cabo projetos criativos

Vânia Maria Resende
Publicado em 30/05/2016 às 08:50Atualizado em 16/12/2022 às 18:40
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 A literatura infantil: do Brasil para o mundo

A qualidade da produção editorial para crianças no Brasil foi se intensificando a partir da década de 70. O amadurecimento profissional na área se deve a significativos investimentos e cuidado das editoras, ao levarem a cabo projetos criativos e experimentais de escritores, ilustradores e artistas gráficos brasileiros que se revelaram contemporaneamente. A beleza do objeto impresso passa a ser apreciada por diferentes públicos leitores, e se torna matéria de estudo e pesquisa em universidades. O reconhecimento vai além de fronteiras nacionais, já que nossos produtos têm espaço garantido em importantes feiras de livros estrangeiras.

A riqueza estética de muitos dos nossos livros justifica os seus autores serem premiados com, entre outros, o prestigiado Prêmio Hans Christian Andersen (Lygia Bojunga Nunes em 82; Ana Maria Machado em 2000; o ilustrador Roger Mello em 2014), e suas obras ganharem circulação em vários países. Desse valor decorre também o fato do Brasil ter sido escolhido três vezes para criar a mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil, divulgada nos 77 países membros do Internacional Board on Books for Young People.

A mensagem, de teor ficcional, habitualmente se volta sobre a importância do livro e da leitura na infância, de acordo com o próprio compromisso do IBBY com a valorização e a promoção da literatura para crianças e jovens no mundo. Na mensagem “Livr a troca” (1984), de Lygia Bojunga, uma leitora infantil voraz, de imaginação insaciável, encontra alimento e morada nos livros, aventurando-se por espaços imaginários e papéis fantásticos, até chegar à condição de escritora (a própria Lygia). Em “Livros: o mundo numa rede encantada” (2003), mensagem de Ana Maria Machado, uma menina fica curiosa pela estatueta de Dom Quixote e Sancho Pança que vê sobre a mesa do pai; ele para as obrigações adultas para apresentar à criança o livro onde as personagens se encontram, mostrando-lhe as figuras e contando-lhe a história. Essa e outras experiências de cumplicidade entre a garota e os seus pais são fundamentais à sua familiaridade com os livros; assim ela vai ampliando leituras de clássicos universais, avançando estágios de autonomia e crescimento através das leituras.

Em “Era uma vez...” (2016), de Luciana Sandroni, a protagonista Luísa se encanta com o espaço mágico de uma biblioteca. É seduzida por várias personagens da literatura infantil, que saltam das páginas, entram na sua mochila, vão com ela para casa, como parte significativa da sua realidade íntima; o pensamento mágico infantil, possuído pela fantasia dos livros, rompe limites entre real e imaginário (lembrando o enredo da peça Seis personagens em busca de um autor, de Pirandello). Ziraldo, na ilustração da mensagem, dialoga com a pintura “A criação do homem”, de Michelangelo, e visualiza a sua concepção de livro como “objeto perfeito”, fantástico, onde cabe o mundo.

O texto e a ilustração da mensagem do DILI 2016 estão sendo amplamente explorados em rodas de leitura em Uberaba ao longo do ano; podem ser lido e vista na Exposição “Era uma vez... personagens à procura de leitores”, aberta ao público desde 15 de abril, com tempo indeterminado, na Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães.

Vânia Maria Resende/ Educadora, doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa

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