A proposta de se fazer um estudo bibliográfico da obra de Juvenal Arduini (1918-2012) partiu do psiquiatra Jorge Bichuetti, em janeiro de 2021, veiculada dentro do grupo Upop-JA (Universidade Popular Juvenal Arduini). A partir daí, foi desenvolvida a pesquisa, culminando com o livro que resgata aspectos importantes da obra e da vida do autor, com lançamento em 2022. Os colaboradores são alguns integrantes da Upop-JA e outras pessoas que tiveram convívio fundamental com Arduini em espaços com Igreja, Hospital São Domingos, universidades, Escola de Governo, Comissão de Direitos Humanos, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, etc.
No estilo de uma coletânea, sem caráter de biografia tradicional, que segue alinhamento cronológico de eventos da vida, o livro traz uma reunião de vozes sobre Juvenal Arduini que afirmam a importância do seu legado profético (pleno de atualidade), corajoso, de valor humanitário, pautado na densidade de cunho antropológico, filosófico e espiritual. Compõe-se de sete artigos sobre o autor e a obra; depoimentos (alguns já publicados a partir dos anos 60) de quem o acompanhou em diversos momentos e experiências; recortes de quatro entrevistas que ele deu de 1977 a 2002; resenhas de suas 14 obras; fortuna crítica (levantamento de fontes acadêmicas, jornalísticas e outras, em que seus livros são referência para estudos e bibliografias).
Tive o privilégio de assumir a coordenação de Travessia de libertação – Vida e obra de Juvenal Arduini. O livro inclui a apresentação de Jorge Bichuetti. A capa é do artista Paulo Miranda e o miolo inclui o desenho “Coração em chamas”, do artista Hélio Ademir Siqueira.
O objetivo da publicação é valorizar o patrimônio humano, que é Juvenal Arduini. Sua figura, notável pela síntese de virtude, talento e brilho, constitui hoje bem imaterial (fonte preciosa da memória coletiva), e sua obra é bem material precioso, cuja leitura é fonte valiosa para a formação de uma mentalidade humanista e reflexiva, necessária às novas gerações. Como seu pensamento prima pelo humanismo segundo fundamento cristão, atrela a noção de divindade presente ou negada na construção humana historicamente situada, que pode ser via de transcendência espiritual. Na citação seguinte da obra Antropologia – Ousar para reinventar a humanidade, de 2002, Arduini aponta a negação de Deus-essência (que não se falsifica com imagem vazia e clichês retóricos) no plano concreto das relações econômicas e sociais:
“Agora, o Outro é mercado absolutista. O Outro humano perdeu seu lugar, perdeu sua face. É dispensável. Às vezes, até proibido de trabalhar. Pode ser exterminado lentamente. É novo holocausto. Holocausto econômico que substitui o holocausto racial em Auschwitz. [...] O Deus que ilumina a face do Outro não vai ‘suicidar-se’. O Deus da vida protesta contra todos os holocaustos desumanos. Protesta também contra o holocausto da miséria, que incinera silenciosamente existências humanas. E protesta contra o holocausto que crema direitos fundamentais do povo, alegando democracia. No olhar livre ou no olhar esmagado do Outro está o olhar inapagável de Deus” (Editora Paulus, p. 108).
Travessia de libertação – Vida e obra de Juvenal Arduini será lançado no dia 31 de maio, às 19h30, no auditório Esmeralda da UFTM. Que um público massivo esteja presente para reverenciar e celebrar a vida e a obra do inesquecível e imprescindível filósofo, escritor, profeta, educador! 1.000 exemplares do livro serão distribuídos gratuitamente, sob o patrocínio da Unimed Uberaba e do Hospital Unimed São Domingos.
Vânia Maria Resende
Educadora, doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
