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Ziraldo sempre festejado em Uberaba

Vânia Maria Resende
Publicado em 01/06/2024 às 18:25
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As sete vezes que Ziraldo esteve em Uberaba ele propiciou fruição de vida e de arte a muita gente. Em 82, tempo de retomada da democracia no Brasil, foi presença alvissareira nos programas “Cinco no cinco, agora à tarde” e “Bigorna”/TV Uberaba e no meio universitário/Uniube. Em março de 97, a diretora Célia Peres o trouxe para programa na Escola Jean Christophe e palestra para a comunidade sobre o valor da leitura com tema “Uma visão sobre o que é educar” (editada no caderno Escritos Alternativos nº 9 – 1997, Smed-Uberaba). Na última vez, outubro de 2011, foi destaque da Festa Literária de Uberaba assessorada por Tiago de Melo Andrade e Thaís Colus.

Em outras quatro datas, entre 83 e 2000, foi protagonista de festas memoráveis. Em 22/10/83, a Livraria Menino Maluquinho foi inaugurada em momentos festivos, com ele. Em 87, participou de encontros significativos com estudantes. Um foi na Livraria e se desdobrou numa cena de emoção: subíamos o morro da rua Lauro Borges em direção ao carro, quando ele viu que estava sendo seguido pelos adolescentes com os quais acabara de conversar. Feliz com o inusitado, considerou-se um flautista de Hamelin.

1989 foi um ano especial para o artista e para Uberaba. A Livraria comemorou 20 anos de “Flicts”. Cores preencheram espaços culturais, escolas, praça, na culminância de projetos de leitura e criação a partir do livro aniversariante. Belas experiências, imagens indeléveis! Lembro esta cena: capela do Colégio Marista cheia; Ziraldo entra e, emocionado por ver todas as crianças com o “Flicts” nas mãos, vai direto para o altar, abre os braços e as abençoa com um “Dominus vobiscum!”. Na saída do colégio, com um abraço agradecido, disse-me: “tudo que se faz com amor dá certo”.

Do projeto “Criar do branco seu próprio universo”, inspirado em “Flicts”, resultou bela exposição de pinturas infantis e juvenis. A montagem artesanal teve sugestões de Bartolomeu Campos Queirós e Hélio Siqueira; Elisabeth Shimaru criou o álbum “Apontamentos sobre Flicts”. A Mostra itinerante foi em Uberaba (2 vezes); Rio (contou com a presença do Ziraldo); Belo Horizonte; Araraquara. A Livraria Flicts desenvolveu o projeto em Goiânia.

Ano 2000. Período fértil e humanizado da Escola Cidadã sob a gestão de Maria de Lourdes Melo Praes. A Secretaria Municipal de Educação planejou para 7 e 8 de novembro ações educativo-culturais a partir do projeto “O Menino Maluquinho – 20 anos em festa”, com a presença do autor. Ele ficou viúvo uns 4 meses antes e depois disso foi operado do coração. Chegando novembro, ligou-me, comunicando que tinha uma notícia ruim e uma boa: estava em recuperação, mas viria mesmo de maca. Veio, e viveu dias vibrantes, de alegria coletiva intensa, em especial na festa grandiosa na praça da igreja Santa Rita (parceria com o Proler/Biblioteca Municipal). Mônica Pacheco o recebeu na escola municipal rural que dirigia, numa noite aconchegante, com galinhada; cesta de produtos da terra para ele. E uma mesa mineira inspirada na da casa da avó do filme do Menino Maluquinho; ali, encantado, Ziraldo chorou, descrevendo a mesa, ao telefone, para a filha.

Houve grandes trocas entre Uberaba e Ziraldo. Generoso, ele nunca recebeu pró-labore da Livraria Menino Maluquinho; o que recebeu em 2000 da Smed doou para o Ceopee. Forneceu-me tudo que saiu sobre “Flicts” na imprensa em 69, material útil para minha pesquisa no doutorado. Assistiu a apresentações que fiz no Rio, a maioria sobre “Flicts”, em 84, 89, 2000, 2009. Nesse ano, pediu-me um artigo para a edição especial de 40 anos do livro, Ed. Melhoramentos; escrevi “Flicts na vanguarda: reflexos duradouros da inovação”. Impossível não registrar o gesto que ele teve com uma criança de rua na festa na praça, em 2000: vendo-a perto, onde autografava, deu-lhe dinheiro por baixo da mesa, para comprar um livro e receber seu autógrafo.

Em 2009, a vice-diretora Marlene Barcelos articulou, pela E. E. João Pinheiro em um curso de literatura o estudo de Ziraldo e comemoração de 40 anos de “Flicts”: oficinas; exposição de pinturas de professores e estudantes; impressão de 2000 cartões postais com a temática “Flicts”. Ziraldo não veio à escola, mas soube das ações e ganhou postais. Mais um entre os presentes recebidos, feitos por crianças de Uberaba: centenas de desenhos do concurso Menino Maluquinho, de onde saiu a logomarca da Livraria; quadro do projeto Criar do Branco...; Menino Maluquinho entalhado em madeira e em argila. O último presente lhe dei em 2019: duas chávenas de louça com versos de “Flicts”, gravados por Patrícia Vilas Boas; ele quis saber sobre ela.

Uberaba reverenciou Ziraldo com criações maluquinhas em diálogo com a sua obra. Lembremos duas de tantas. Crianças do Balé Beth Dorça lhe apresentaram, em 89, versos de “Flicts”, dançando. Um coral inédito cantou, para ele, em 2000, textos infantis sobre o Menino Maluquinho, com música e regência de Olga Frange. Quem usufruiu da presença do grande artista pôde ver também um homem simples, cosmopolita de raízes mineiras.

 Vânia Maria Resende

Educadora; doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa

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