Evódio é um felizardo, tem três irmãs para paparicar. Ele as paparica por predileção comum a elas. Ele não tem uma irmã que sobressai sobre a outra, embora elas tenham as suas predileções. Ele não. Isabel, Cláudia e Nívea são tratadas igualmente. Irmãs são assim; desconfiam que haja o predileto da mãe, o queridinho da família, que um gosta mais que o outro. Irmãos vivem suspeitando um do outro por puro ciúme afetivo. Mas Evódio, não. Tem amor incondicional pelas irmãs de forma igualitária. Elas, embora diferentes, são iguais na amorosidade expressa, na solidariedade cristã e na implicância entre si. Elas são a síntese temperamental da mãe e do pai, explodindo em suas individualidades. Vivem desnovelando os relacionamentos num enrolar de temperamentos pessoais dos mais variados. Quem tem irmãos sabe o quão largo pode ser o relacionamento entre eles. Vira e meche estamos surfando nas ondas do humor. Privilégios da convivência na irmandade. As irmãs de Evódio são irmãs carnais e espirituais, todavia, existem discórdias entre eles. Natural entre irmãos, quando a família é grande e os assuntos perpassam paredes e tomam volume e significados diversos; quando passa de boca em boca por ouvidos diferentes. O volume aumenta quando elas discutem quem tem preferência por quem. Isabel é exímia no fazer guloseimas. Tem uma mão herdada da mãe, e de toda linhagem da cozinha mineira, faz uma galinhada como ninguém. O arroz de sua galinhada é marronzinho... Ela é uma irmã amorosa. Carrega no colo a renca de filhas lindas, maravilhosas, que lhe deu netas e neto. Há um menino, para o sorriso largo do marido. A outra é a Cláudia, que só sabe fazer macarrão, mas quem o come não esquece. Todas apontam o dedo para ela em implicância, dizendo que ela é a preferida do Evódio, mas por pura implicância da Nivinha, que leva o nome da mãe. Ela desaprendeu a cozinhar, o culpado é o companheiro dela que a pôs preguiçosa. Nívea e Cláudia também deram a Evódio sobrinhos amorosos, de boa convivência. As irmãs são briguentas umas com as outras por pura herança genética. Lutam contra essa natureza exercitando a tolerância, a convivência. O amor dele por elas é incondicional, embora elas creiam que há uma predileta. Essa história, segundo me contaram, nasceu da boca da Nivinha, para justificar a sua preferência por outro irmão. Um dia, ela o abduziu para que ninguém o visse, e aí fez para ele um banquete regado a vinho. O Evódio fica ali observando as preferências delas. O irmão predileto da Cláudia e da Izabel é outro. Dizem que ele mora fora. Evódio fica olhando para elas vendo a mãe encarnada. Elas são irmãs surpreendentes, sempre afagando quem as visita. Ele é um privilegiado por ter irmãs assim, tão gratas com a vida. A “reliência” entre elas vai e vem como se fosse o exercício constante da reconciliação. Irmãos podem falar um do outro, mas os de fora não, mesmo que seja da família. Somente e unicamente os irmãos podem falar mal deles mesmos.
(*) Professor