ARTICULISTAS

As manias de todos nós

O filósofo Platão, numa de suas aulas, definiu o homem

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 08/12/2013 às 12:58Atualizado em 19/12/2022 às 09:54
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O filósofo Platão, numa de suas aulas, definiu o homem como um bípede implume. Dias depois, um de seus adversários apareceu em público com um frango depenado e, pendurado no pescoço, um pequeno cartaz em que se lia: “Eis o homem de Platão.”

Uma das preocupações dos filósofos, romancistas e outros mais, foi definir o que é o homem. Um dizia que o homem era um animal que sofre e sabe que sofre. Outro foi mais trágic o homem é um animal que nasce condenado à morte.  Outro partiu para a comicidade: o homem é um animal que ri.  Um sociólogo americano foi mais prátic o homem é um animal que coleciona.

A definição do americano é bem superficial, mas vem carregada de razões. Todos nós, agora ou no passado, passamos pela mania de colecionar coisas. É algo de irresistível. Hoje, essa tendência se traduz em criar um bicho qualquer. Cão, gato, papagaio, coelho, peixe, e vai por aí afora.  

Há dias, num programa de televisão, foi-nos mostrado um americano que “adotou” um porco cor-de-rosa como objeto de estimação (pet, como dizem por lá). Diz ele que aquele porco lhe salvou a vida, não disse como nem sou capaz de imaginar. Ele, o porco, vive uma vida imprópria para um porco, limpa. Toma banho todos os dias, tem os dentes escovados e dorme com o dono, na mesma cama. Conheci um senhor, em Uberlândia, que criava uma imensa jiboia em seu armazém. Dizia ele que ela comia os ratos que infestavam a região além de pedaços de carne que ele lhe dava. Enrolava-se em seu pescoço e o beijava na orelha com uma língua bipartida. Provocava engulhos. Conheci em Romaria, um padre holandês que criava uma seriema. A ave, bem escovada, o acompanhava por toda parte, inclusive quando ia levar comunhão para os doentes. Eram inseparáveis. Só tinha um senã o padre não podia cantar perto dela, tentava acompanhar a música com seus gritos estridentes fora do ritmo e do tom.

Até os papas tinham suas manias. O tristemente famoso Alexandre VI criava cavalos. Seu haras era um dos mais famosos do tempo, visitado por reis, príncipes e, principalmente, por princesas e rainhas. Já Leão X era vidrado em animais raros. Seu jardim zoológico recebia presentes de reis distantes, inclusive de marajás indianos. A manutenção de tanta riqueza causava rombos irreparáveis nas finanças papais. Os papas eram criaturas humanas, eram (e são) sujeitos, como todos nós, a extravagâncias, pecados, erros e defeitos.

Dom Manuel lº, o Venturoso, rei de Portugal, no século XVI, querendo agradar ao papa reinante, Leão X, deu-lhe de presente um elefantinho branco de apenas 4 anos, com seu treinador indiano e seu tratador sarraceno. Foi-lhe dado o nome de Anone. Sua chegada a Roma foi um acontecimento. Leão X enviou ao seu encontro um esquadrão de guardas suíços armados com ordens de atirar em quem se aproximasse do bichinho. Estavam presentes também vários médicos da corte pontifícia. Anone foi treinado para ajoelhar-se diante do Pontífice e borrifar água para cima. Para tutor de Anone foi nomeado Mons. Giovanni Battista Brandione. Em todas as procissões, o Papa era precedido pelo elefantinho. Todos os soberanos mais amigos foram convidados para visitá-lo. Anone faleceu no dia 8 de junho de l516. Foi enterrado atrás do Palácio Pontifício. A pedido de Leão X, Rafael elaborou um afresco de Anone em tamanho natural. No epitáfio, além das qualidades do elefantinho, lia-se o seguinte: “Foi a alegria do povo romano, Anone era um animal de sentimentos humanos”. Meio século depois, o papa Pio 5º, que tinha a cabeça no lugar, mandou destruir aquele afresco.                                                         

Todos nós temos nossas manias. Um repórter, perguntou ao Lula se ele tinha alguma peculiaridade que marcava seu comportamento. Respondeu que “não sabia”. Ele nunca soube de nada, nem do que andavam aprontando seus “companheros” nos cofres do erário público.

 

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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