É o nome da principal avenida de acesso ao Rio de Janeiro, quando se chega pela Serra do Mar no sentido D. Pedro I. É uma das áreas de violência da cidade, marcada pela concentração de pobreza, por empresas e pelo vaivém de carros, ônibus, motos, e gente, muita gente. Avenida Brasil é também nome da novela que veicula à noite pela rede de televisão. Inclusive, essa rede é campeã em novelas, fazem-nas como as padarias e redações de jornais fazem os seus produtos cotidianamente. Às vezes as padarias erram no sal, no tempo de forno e ofertam assim mesmo as suas guloseimas através das vitrines. Podem ocorrer tais equívocos nas chamadas pela imprensa, porém, só depois se percebe o erro e o estrago já está feito. Creio que não é diferente do que ocorre no enredo de uma novela, que no caso recebe o nome da Avenida do Rio de Janeiro. O autor da trama não se sentiu conformado com o seu lago azul interior e resolveu caminhar pelo lodo de seu lago apresentando o que há de mais ordinário e repugnante na escória humana. É uma novela que em nada nos conforta ou nos ensina. O ideal é assistirmos programa que nos apresente algo de inovador, criativo ou que nos permita olhar ao nosso redor e nos possibilitar uma experiência de aprendizagem. Diferentemente da Avenida Brasil, que só apresenta o que há de pior em uma sociedade e nos indivíduos marcados pelo desvario, pela ignorância, pela falta de reflexão sobre si mesmo e sobre o outro social. É uma novela pesada e preconceituosa a partir do momento em que os seus protagonistas são pessoas que viveram na miséria e no lixão; porém, a miséria e o lixão não saíram de dentro delas. São pessoas com marcas da pobreza de espírito, e, em seu desdobramento, a pobreza gerou angústias externadas na violência e na vingança. Enfim, os personagens não têm nada além da sordidez. É como se a pobreza fosse a responsável pela sordidez de caráter ou que isso só se forma em quem veio do lixão. Isso para não falarmos do velhote que se assanha com a lindeza da juventude e vivem juntos entre a desconfiança e o desejo, entre o querer sem se assumir em sua velhice. Podemos dizer que é um perfil humano doentio. O autor só evidencia da vida o que é doente e de extorsão humana. As pessoas caminham e perdem o sentido de suas vidas e passam a se nutrir de um passado que não passou porque ficou depositado no fundo de lagoa pessoal, formando um lodo que, removido, traz à tona situações não superadas. Não vejo nada de meritório ou interessante nesta novela, nem mesmo aquele sortudo que tem mulheres e filhos. Não dá para ter inveja dele, porque ele não tem paz de espírito e nem pode curtir uma mulher em todas as suas variáveis, perde-se no qualitativo ao se querer o quantitativo. Creio que essa novela deixara marca não pela sua fraqueza de enredo, mas pela apologia ao crime, à maldade, ao submundo por onde correm homens e mulheres independentemente de seus nichos sociais de origem, mas que ninguém merece ficar vendo após um dia cansativo de trabalho. Deve interessar àqueles que não têm nada a dizer e pouco a aprender, a não ser a sua própria angústia de nada ter construído de bom que valesse a pena propagar.
(*) Professor