Esta frase escutei do meu inesquecível amigo e mestre Randolfo Borges, há uns cinquenta anos
Esta frase escutei do meu inesquecível amigo e mestre Randolfo Borges, há uns cinquenta anos. Eu diria que ainda estávamos na geração dos filhos nobres, famílias de destaque e tradição.
Passaram-se cinquenta anos, eu vivi demais e muitas experiências, pessoais ou sociais. Conto uma simples. Levanto-me cedo, cinco e meia, nariz entupido, pego o carro e desço para o centro, porque em bairro as farmácias estão fechadas. Vou pela avenida Santos Dumont, que há cinquenta anos era de terra e hoje é asfalto e grã-fina. Passo vagarosamente pelo posto de gasolina do Carlinhos. Luzes internas apagadas e cuidadosas... mas ali no pátio externo uma multidão de carros e mocidades fêmeas e machos jovens. Fim de noite, penso, com latadas de cerveja e – penso! – alguma munição proibida e escondida. Todos são jovens, alguns já cambaleantes – de novo machos e fêmeas. Machos usam boné ridículo ou o penteado do Neimar. Fêmeas usam roupa estilo pouco em cima e menos em baixo – shorts que exibem o nascimento da nádega – ou da bunda, se o Randolfo estivesse comigo. Não vou continuar, vocês já assistiram ou sabem deste espetáculo e seus finais.
No caso, a juventude devia ser a geração nobre, dos pais ricos, uma matrícula em faculdade de profissão passar o tempo e gozar a vida. É um número grande e importante, por enquanto – mas eu nem sei se seus filhos (se acontecerem) serão simplesmente pobres. Conheço mais, graças a Deus, os filhos pobres ou ricos que madrugam no estudo e no trabalho, e que por aí os considero nobres, mesmo que não ambicionem ou cheguem a ser ricos. O que senti e doeu foi este contraste, vendo ali no posto filhos de amigos que tenho e talvez estejam dormindo e sonhando. Os meus, graças a Deus, estão criados e já cuidam dos seus.
Então, meu amigo leitor, por que esta crônica de dor? Pelos outros, meu caro, pelos outros. Leiam as consequências nos jornais, os rachas e motos fatais, os filhos de falhas anticoncepcionais, o sofrimento dos pais. Entendo que não adianta este retrato que assisti – não tenho meios nem força para impedi-lo. Entretanto, penso que a geração do meio, da meia-idade, deve entupir o nariz de vez em quando, ir à farmácia, pegar seu filho ou filha na gandaia das cinco e levá-lo(a) para casa. Mostrar-lhe o capítulo final de sua existência alegre, de herança já reduzida, de profissão e títulos inúteis, simplesmente porque o tempo passou e o dinheiro acabou. Mostrar-lhe o seu colega e amigo da vida dura e logo triunfante, que ainda existem destes exemplos.
Remédio bom será o trabalho verdadeiro, que honra e dignifica. Eu não canso de admirar e elogiar uma juventude feminina que hoje assumiu independência neste novo e necessário Brasil. Olhem, meus amigos, até o Zeca Pagodinho está cantando “brincadeira tem hora”...
(*) médico e pecuarista