Existe um verdadeiro “contra ponto” entre o Antigo e o Novo Testamento, que relaciona o acontecimento da Torre de Babel (Gn 11,9), quando houve uma confusão de línguas, impedindo as pessoas de se entenderem, com o fato bíblico de Pentecostes (At 2,8), em que todos entendiam o que era dito, e na própria língua. Um passado e um presente que se entrelaçam no projeto salvífico de Deus.
Esses fatos nos fazem pensar nos dias de hoje, marcados por uma cultura mundial muito confusa e de insegurança para as populações. Está parecendo repetição da Torre de Babel, sendo corroborado agora pela pandemia do coronavírus. No Brasil as coisas estão ainda muito mais complicadas, porque existe uma realidade de desentendimentos, desmandos e conflitos cada dia piores.
Pentecostes, na história da Igreja, é uma Festa consolidada como expressão de comunicação e de comunhão. Desde o início foi celebrada no sentido de compreensão, entendimento e convivência fraterna entre as pessoas. Quem consegue perceber a presença do Espírito Santo consegue superar todas as barreiras que dificultam ou impedem os relacionamentos na vida comunitária.
A vinda do Espírito Santo em Pentecostes trouxe uma nova dimensão para a vida da Igreja, até então difusa apenas entre os judeus. Agora todos os povos conseguem se entender e perceber que a salvação é para todos. O vírus da pandemia tem provocado reação universal, porque todos estão preocupados com a vida. Que o Espírito Santo esteja presença para criar unidade entre os povos.
No Cenáculo os apóstolos estavam com as portas fechadas, com medo dos judeus (Jo 20,19). A coragem veio quando sentiram a presença consoladora do Espírito Santo. Quem percebe a gravidade do momento, para se defender e defender o outro, está de portas fechadas com medo da contaminação do coronavírus. É o isolamento solidário e o reflexo de maturidade humana em favor da vida.
No meio de tantas incertezas e notícias falsas, mas também de possibilidades apresentadas nos modernos meios de comunicação, que revelam a ação do Espírito Santo, o futuro deve ser fruto de uma conquista de todas as pessoas no hoje de suas histórias. É como um salto de esperança, porque a vida, defendida na sua integridade, exige somatório de forças para construir um mundo sem divisões.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba