Evódio ficou ali, parado, observando as pessoas se depenarem de seus objetos metálicos ou similares, que os retinham no detector de metais, não as deixando, portanto, acessarem a sala de embarque do aeroporto. Tiravam relógios, esvaziavam os bolsos das calças, depositavam no receptáculo de objetos o celular, a carteira até que o insistente equipamento deixasse de apitar. As mulheres são, em absoluto, vítimas do sistema de detecção de objetos julgados indesejáveis. Elas, mesmo pelas manhãs, ainda cedinho, estão impecáveis com as suas bolsas e sapatos. É uma heresia macular uma mulher na fila de entrada da sala de embarque, obrigando-a a se despir de seus sapatos. Chegam poderosas e, logo, logo, estão de meias nos pés a verem os seus sapatos serem submetidos aos exames; disse-me Evódio. Falta do que observar, penso eu de Evódio ao perder tempo neste entretenimento. A revista pessoal às vezes é necessária a fim de encontrem o que o retém. Em uma manhã, penso eu, que ninguém merece chegar de madrugada em aeroporto – deveria ser proibido – Evódio ficou ali parado naquela fila aguardando o outro ser liberado. Quem o ver em uma fila, trate de escolher outra, porque aquela não andará. É interminável a lista de situações que ele me relatou em fila de atendimento. O sistema sai do ar, o caixa erra e é preciso repassar os produtos, o cartão de crédito emperra e ele fica ali pensando se deve ou não mudar de fila. Ao mudar, a fila em que ele estava começa a deslanchar e, aquela outra emperra. Então, eu disse a ele; “não mude mais de fila”. Não sei se ele me ouviu. O certo é que ele ficou naquela fila aguardando o cidadão a ser liberado pelo equipamento. Ao tentar passar novamente, o detector de metal disparava, e aquele senhor era obrigado a retornar, retirar o que havia nos bolsos, nos pulsos... Os sapatos já tinham sido descartados, porque havia um detalhe em fivela que obstruía a sua passagem. Nada o liberava. Então, foi chamada a inspeção pessoal. Ali, de braços e pernas abertas, a segurança do aeroporto começou a revista. Passou pelos braços, nas costas, no peito e começou a subir dos pés para a cabeça, quando na altura da cintura o aparelho apitou. Os fatos transcorriam naturalmente, a revelia dos olhares de curiosos, mas a partir daquela revista pessoal, alguns curiosos começaram a desacelerar os passos, outros a olhar de longe, até que o local se transformou num aglomerado de curiosos. Evódio ouviu quando o segurança perguntou o que havia sob a roupa do cidadão. O outro se fez de desentendido. Retomou a pergunta e, como não houve resposta, disse-lhe; “não posso deixá-lo prosseguir se não houver uma revista pessoal ou o senhor me dizer o que há sob as suas calças”. O rapaz avermelhou-se, e disse baixo. Ah! Constrangido respondeu: creio que seja a minha medalhinha presa à cueca. Levou a mão sob as calças e a retirou, cessando o detector de metal.
(*) Professor