Ela não tem cheiro vulgar de fragrância doce. Não usa perfume forte para chamar a atenção e nem o passa nas mãos, obrigando quem a cumprimenta a carregar o seu cheiro. Seu cheiro é de pele, limpamente lambida. Não emplasta a pele com cosméticos quaisquer, marcando quem a beija. Não anda em peças íntimas enfiadas a marcar o corpo em roupas rentes. Não usa coloridos extravagantes em unhas longas e vulgares. O seu jeito de ser é outro. Seu batom delineia seus lábios naturalmente, os contornos são de boca mesmo, não outros inexistentes. Não há enchimentos... Nada diferente em carne a não ser seu jeito de ser, assim, tão próprio; para não dizer naturalmente impróprio. Ela é bela, belíssima. De um andar flutuante a nos tirar do plumo. Impossível passar por ela sem olhar para traz. Ontem, eu a vi. Pensei; não se ausente de mim, embora não nos conheçamos. De amor pouco aprendi em ruas e avenidas, mas de olhar em mãos perdidas deixo as minhas estendidas para as suas. Ela, quando passa, me deixa todo roçado em peles. Nunca a vi em som automotivo escandalizado pelo volume, nem em sorriso gargalhado em barulhos a incomodar quem quer o silêncio. Sempre a vejo em desejo meu. Ela é bela, puríssima. Batidas em meu tempo. A minha pele pede por ela. Desejo meus ouvidos recaídos entre suas colinas a ouvir o galopar de seu coração, batendo contra o meu peito. “Quero estar em seu pensamento.” Quem dera se ela pensasse em mim apenas porque me viu. Se houvessem lembranças, poderíamos nos conhecer. E, talvez, poderia dizer: você é bela, suavíssima. “Resta em mim o tanto que eu te quero”, diria a ela ao conhecê-la. “Você talvez se lembre de mim.” Não nos conhecemos. Como ela é bela em dias de chuva, mesmo querendo o sol. No calor, a desejo no silêncio saudoso. Quando desfolhado, tenho braços como galhos a lhe abraçar em meus sonhos, mas eu não a tenho. Minto que você é bela, mas não é. Você é maravilhosamente bela. Declarado de lado, de voz baixa quando era preciso dizer alto, de frente, olhando para você. A beleza ao bater asas de mim deixou-me deitado em dores minhas. Desesperançado, creio que não tenho esperanças em braços desejados. Lembro-me, agora, que ao passar por mim, em mim, de blusa sem mangas, cheirosa, de cabelos soltos e de sorriso largo, de pele irrigada, aquela sua blusa deixava-me ver suas axilas tão limpas e depiladas que me dava desejo de me alimentar ali em movimento côncavo, convexo. Seus cabelos cheirosos entraram pelas minhas narinas e hoje dormem como lembranças em mim. Tenho saudades de você. O seu sorriso alargou os meus complexos, eu a perdi em noite andante em ruas por onde você não passa, em becos que não adormecem, em bares que eu não precisava beber tanto. Você é bela, mas não mais a vejo. A sua roupa solta, e eu nem tanto, espraiou meus desejos. Vou lhe procurar e lhe dizer que você é bela, maravilhosamente bela!
(*) Professor