Por descuido dos controladores financeiros do país, a inflação, indócil monstro que corrói salários, aposentadorias e pensões, transformou-se na Bela Adormecida que acaba de acordar e experimenta os primeiros passos para atrapalhar a vida dos brasileiros. Se continuar de pé, será o grande adversário do partido do poder.
Com a alta desenfreada de alimentos, transportes, material escolar e tudo o mais, o salário que, em tese, seria suficiente para a família pagar dívidas e comprar o necessário para viver durante um mês inteiro, desaparece já na metade do mês. O dinheiro acaba e o mês continua.
Num posto que já pertenceu ao chuchu, o tomate, atual vedete das capas de revistas, tornou-se o maior vilão dessa inflação e é acusado de alavancar os preços de todos os alimentos. Entretanto é um engano taxá-lo como único vilão, pois a alta nos preços é geral.
Foi-se o tempo em que uma apresentação ruim recebia uma chuva de tomates. Ironicamente hoje isso seria um luxo. No auge da euforia com a alta do vilãozinho, as donas de casa o substituíram, conscientemente, por alimentos mais em conta. E o apodrecimento do tomate nas bancas forçou uma baixa nos preços.
Mesmo assim hoje não se consegue encher o carrinho no supermercado, pagando o valor de compra idêntica feita há apenas uma semana. Cabe às autoridades dominar o crescimento da inflação evitando, por exemplo, que empresários mantenham dinheiro nos bancos rendendo juros, em vez de aplicá-lo na linha de produção.
Impossível controlar a inflação com gritos ou pancadas na mesa; ela deve ser gerida por quem sabe lidar com a matéria e domina medidas capazes de acalmar a fera. Em momentos de vacas magras, em que o mês vem insistindo em ficar cada vez mais comprido, a ordem é pesquisar preços, gastar com parcimônia e valorizar o dinheiro que ainda resta no bolso, aguardando a chegada dos tempos das vacas gordas.