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Boca e coração

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 25/02/2022 às 19:31Atualizado em 18/12/2022 às 18:21
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Uma coisa é a aparência, as palavras vazias, as fake news, a habilidade teatral, as retóricas superficiais. Outra é o bem que brota do coração humano. Dizem que a boca fala daquilo que sai do coração. Mas o coração só consegue se encher de sabedoria com o testemunho de autenticidade e transparência na convivência. Ater-se só a critérios humanos é impossível sentir uma verdadeira alegria.

Palavras pronunciadas somente da razão, sem a afinidade e anuência do coração, não conseguem atingir a força positiva que elas têm na comunicação. É importante entender que o coração precisa estar munido de boas atitudes, para que a boca pronuncie palavras que elevam a dignidade e o bem das pessoas. Que sejam escutadas com o poder que elas têm de mudar as realidades da cultura.

A boca e o coração são muito influenciados pelo domínio da política, da economia e pela imposição religiosa e cultural. São forças psicológicas, que colocam em risco a identidade da pessoa, como também os valores morais e éticos, que norteiam sua vida. Do coração só podem brotar palavras de sinceridade e sabedoria, que influenciam no proceder dos atos normais do cotidiano.

Palavras proferidas pela boca nem sempre convencem, mais ainda quando não partem do bem que vem do coração humano. É de extrema importância, nestas circunstâncias, o apoio nos princípios de sabedoria e norteadores, que vêm dos concisos ensinamentos da Escritura Sagrada. Não é saudável ficar apoiado nas aparências, nos disfarces teatrais, que não valorizam os ensinamentos divinos.

No coração das pessoas, de onde deveria surgir o empenho pelo total respeito à vida, podem estar reinando as atitudes de egoísmo, de escravidão, violência, ódio, etc. As palavras proferidas dentro desse contexto conseguem desestruturar a vida do outro. Não havendo um processo sério de mudança interior, de conversão, tudo não passa de obras que ocasionam a morte.

Muitas pessoas deixam de contribuir com o bem comum porque são muito intransigentes e intolerantes no uso das palavras. Às vezes, olham os defeitos do outro e não conseguem enxergar os delas. São julgamentos proferidos pela boca, pelas palavras, mas originárias do coração. São práticas que não produzem bons frutos. Quem segue os ensinamentos de Deus é coerente no falar e no agir.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba

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