“Bom-dia, Brasil!” “A crise financeira internacional se agrava, e as bolsas sofrem quedas históricas.” “Fiscais do Ministério do Trabalho libertam duzentos trabalhadores em situação de escravidão, dentre os quais, quarenta menores.” “Chuvas no Sul causam inundações. Duzentas famílias estão desabrigadas. No Norte de Minas é a seca que provoca desastre ambiental. Não chove há seis meses na região.”
“Libertada pelo Conselho Tutelar criança que vivia em cativeiro e era espancada pelos pais.” “Morto a tiros Diretor de Penitenciária do Rio.” “Polícia invade apartamento onde estavam os reféns, depois de noventa horas de cativeiro. Sequestrador atira nos dois reféns.”
“Empresário é morto em seu apartamento. O assassino se apresenta à Justiça.” “Justiça manda libertar banqueiro acusado de desviar milhões de reais para o exterior.” “Dólar sobe e Bovespa tem queda de mais de 10%. Pregão é suspenso.”
Como é que o Brasil pode ter um bom-dia, com essas notícias? A média do noticiário é de uma notícia boa para três outras péssimas. E a notícia boa, às vezes, ainda traz algo de ruim. Por exempl “Homem é retirado de cisterna, onde ficou preso por mais de 30 horas.” “Menino que caiu do quarto andar de um edifício continua internado, e seu estado exige cuidados especiais.”
O mais razoável é deixar a televisão desligada ou o café vai nos fazer mal. Antes do intervalo, ouve-se: “Mais notícias, depois dos comerciais.” Poderiam dizer: “Más notícias, depois dos comerciais.” É verdade que os noticiários são apelativos e dão ęnfase às notícias ruins; entretanto, de uns tempos para cá o péssimo virou mania.
Também não é aconselhável ler os jornais muito cedinho, pois é certo nos depararmos com notícias ruins, sempre em destaque na primeira página, quando não aparecem já na manchete. E nas páginas internas, encontramos outras muitas notas bastante desagradáveis.
O único lenitivo para quem vê os noticiários na televisão e lê as notícias ruins nos jornais é, na maioria das vezes, ter a impressão de que eles não se referem diretamente a si mesmo ou a pessoas de seu relacionamento, embora os fatos sempre choquem e aborreçam o espírito e, além disso, possam, de alguma forma, virem um dia a nos atingir por outros caminhos.
Na impossibilidade de termos só notícias boas de manhã e sendo certo que o mundo está se esmerando a cada dia na violência, o ideal seria, então, mudar o nome do noticiário, uma vez que dar um bom-dia ao telespectador e depois sapecar uma porção de notícias ruins não condiz com o nome do noticiário. E que nome seria mais adequado? Vale pensar. E tenham todos, verdadeiramente, um bom-dia!
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro