O doutor Ray Tamm, meu velho e estimado sogro, já falecido há muitos anos, era um filósofo existencial – prático. Ou seja, aproveitava da filosofia o que lhe servia, o que não servia ia pro lixo. Entre os embates filosóficos o doutor Ray tornou-se galista, como o dr. Ernesto Rocha, o Bichinha e muitos companheiros de briga de galo, ali na rinha da São Benedito. Aquilo era um centro esportivo e de convivências, onde aprendi muitas coisas existencialmente importantes.
É, gente, briga de galo me ensinou muitas coisas que poderiam ainda servir às gerações atuais. Uma pena que estejam proibidas pelo governo com a alegação de crueldade com os animais. Galos de briga são realmente cruéis desde o nascimento, por instinto animal e irracional. Até hoje, em galinheiros, no terreiro ou no chão das fazendas eles se agarram, os fracos correm, os fortes ficam donos das galinhas, até um chefe mais forte chegar. Tudo às claras, ninguém se esconde, conhecem-se logo os fortes e os fracos.
O governo proibiu, nós obedecemos: as brigas de galo estão legalmente proibidas, ponto final. O governo é pacificador, legalizador e otimista, coloca psicólogos, psiquiatras e o diabo a quatro para terminar com a violência social. Eu fico por aqui, na beirada da rinha das lutas sociais, sem saber se devo rir ou chorar. Penso na briga dos galos, a campo aberto, todo mundo assistindo, vendo e participando. O governo é contra, é crueldade, desumanidade, etc. e tal. Ali, pertinho da velha rinha, um grupo de marginais fuma seu pito de crack.
Saem aloucados, uns assaltam e matam, outros violentam jovens desprevenidas, e o chefão do tráfico manda enforcar com corda o seu guerrilheiro que não vendeu, recebeu ou pagou sua cota de mortes alheias. E as brigas de galo são cruéis... Bem, nada do que escrevo é sem sentido ou significado. Não penso que os governos pensam na malignidade das drogas – nada fazem para combatê-las racionalmente, como já escrevi: legalizar por receita e prontuário médico todos os usuários de droga.
Acabam-se os traficantes, já chega ou querem mais? Olhem a enormidade de pacientes que usam psicotrópicos, e vivem bem. Caramba, esqueci do começo da crônica e algum exemplo ou lição da briga de galos. Pois é, esta é importante: em certa briga de galos, ao lado do dr. Ray, vi um galo especial, japonês, batedor fortíssimo, quase massacrando um galinho menor, de fraca batida e tremenda teimosia – não corria do pau. Falei pro dr. Ray: briga liquidada, né? E ele calmo me lecionou: é mesmo – mas o galo grande vai correr e perder.
Fiquei assustado, como entender? E ele, sábio, definiu: o galo batedor está olhando muito pros lados e para a assistência. Tá com medo de perder, vai voar pra fora... Não deu outra! Caramba, porque esta lembrança infantil? Sei não, mas eu vi o Serra vencedor orgulhoso chutar a ajuda do Aécio Pobre de Minas... Agora, sei não...
(*) médico e pecuarista