Uns nascem carecas, outros nem tanto. Assim, no avançar da vida, você pode perdê-los, ou não. Entretanto, entre o nascer e o perder os cabelos, eles se tornam essenciais para alguns. Mulheres adoram cabelos, cuidam deles como se fossem filhos. Não há mulher, que ao passar na frente de um espelho, ou de uma vidraça, ou de um retrovisor de carro, ou de uma poça d’água não se olhe, e não passe as mãos nos cabelos; alisando-os, ajeitando-os, ou deixando-os do jeito que estavam. Mulher gasta mais com os cabelos do que com presentes que os parceiros poderiam receber. Mulher é sempre clássica no corte de seus cabelos. Algumas até que se aventuram num corte mais ousado, porém, logo, logo, retornam ao modelo tradicional. Mulheres colorem os cabelos, alisa-os e, antigamente, havia quem fazia permanentes – o ato de enrolar os cabelos naturais –, mas elas agora estão vitimadas pela moda de que os cabelos devem ser lisos, chapados, como se não houvesse uma natureza dos cabelos.
Cuidar dos cabelos é uma coisa, transformá-los radicalmente é outra coisa. Há beleza nos encaracolados, nos lisos, nos pixains. Quanto aos homens, eles perdem os cabelos ao longo do seu viver. Homens também são vaidosos. Alguns podem chegar ao cúmulo da peruca, do colorir até ficar caju; do implante, que deve doer até a sola do pé no momento em que é realizado; porém, continuam carecas. Mas há os carecas resignados, cujas carecas atacam pelas costas ou fazem entradas na cabeça sem voltas.
Quando se é novo em idade, faz-se o que se quer com os cabelos, inclusive, raspando-os. Antigamente, era o corte príncipe Dalila ou o corte militar e pronto. Agora não. Os cabelos dos menos comprometidos socialmente ou os dos enriquecidos à margem do convencional, têm nos cortes o seu status. Cortam-nos para serem vistos. Fazem verdadeiras obras de arte móveis grudada à cabeça. Vi num dia de frio, duas cacatuas brigando pela adoção de um rapaz que desfilava com os seus cabelos espetados e coloridos. Quando a arara chegou, reivindicou o mesmo. Os cortes rentes à cabeça contrastam com o medo masculino de ser careca, mas quando se é jovem pode-se privar daquilo que se tem com sobras. Mas quando a idade chega tudo é regrado, até o prazer. Não há escapatória. Os enfeites e cortes masculinos tangiam o imponderável, como as cordas de cabelos aplicadas nos cabelos da cabeça; esses, pelo menos, não devem doer como os implantes.
Cabelo sempre foi símbolo de poder e de status, mas os pêlos nunca foram vistos assim, inclusive, quanto menos, melhor. Cabelo na boca é ruim, ao meio de comidas é intolerável. Mas pêlos são péssimas companhias, estejam onde estiverem. Não há divertimento melhor do que ficar a observar vidas estéticas alheias. Observamo-las num vai e vem interminável pelas calçadas, com as suas caricaturas esculpidas nas cabeças. O fim de tudo isso não é apenas o gosto estético, mas o desejo de ser notado e ser diferente de tudo isso que aí está, embora a repetição as faça tão iguais. Assim como aquelas que esticaram, chaparam, alisaram os seus cabelos por exigência da indústria da moda.
(*) Professor