Nunca fiz o que hoje fiz. Na Academia de Letras do Triângulo Mineiro, me postei diante da cadeira número 4
Nunca fiz o que hoje fiz. Na Academia de Letras do Triângulo Mineiro, me postei diante da cadeira número 4, então ocupada por Thomaz de Aquino Prata, o Padre Prata, e ali deixei fluir estas palavras.
Inicialmente lembrei-me de um conselho seu: “Se você não atrair o leitor para explicar o que quer com ele nas primeiras cinco linhas de um texto, esteja certo que nas próximas 500 linhas não conseguirá. Aí ele abandona você”. Então já me explico que quero apenas saciar a saudade do amigo.
Saudade é a presença de uma ausência, tentando preencher um vazio. Recordo-me nitidamente do Padre Prata sentado em sua cadeira, de microfone às mãos se despedindo de seus confrades. E Marta Zednik de Casanova pontuand “Padre Prata, se o senhor não puder vir mais à Academia, a Academia vai até o senhor”. Aplausos, inclusive partindo dele.
Por ser a nossa mais longeva referência viva, PP quando falava, era como se passasse a régua. Ou seja, todas as manifestações posteriores tinham algum ponto “amarrado” à sua fala. Filósofo é assim; suas ideias quando são expressas viram legendas. Saudade do jeito maneiro dele chegando à Academia através da rampa nos fundos, cujo portão eu deixava destrancado para facilitar as coisas. Em nosso mural, extensas matérias de jornais informando o seu passamento.
Ao romper um dos tendões de Aquiles, revelou-me que poderia ficar impedido de andar, quando não ficou, mesmo estando com mais de 90. Há três anos foi acometido de infecção no músculo Psoas e, no Hospital São José, o difícil diagnóstico fora dado pelo também confrade João Gilberto Rodrigues da Cunha. Difícil foi para mim, não ser reconhecido por Thomaz que me mirou demoradamente e se voltou para o canto. Ali pensei que perderia o amigo. Reagiu bem e não o perdi.
Em sua casa, ao tocar o interfone, ele me recebia sempre com um sorriso, mesmo se estivesse triste. Mostrava-me o pomar e o jardim bem cuidados. Fazia questão de enaltecer o trabalho das duas cuidadoras, Vanda Monteiro e Francisca Monteiro. Nas paredes da sala, telas de Ovídio Fernandes, Hélio Siqueira e outros. Um banner em preto e branco o destacava montado numa moto nos idos da década de cinquenta. E conversávamos, conversávamos... Foi incentivador da nossa Pomba da Paz.
Os feitos das pessoas vão sendo descobertos post mortem. Na chácara do amigo Edison Paulino de Aguiar, o Nego, há uma baita árvore de Mogno plantada por Padre Prata, cujos vendedores Dr. Amir Mattar e Hely Sivieri só selaram a venda, com a promessa do comprador de preservá-la. Se ela não seria tocada, agora então...
Saudade é a vontade de ver de novo. Amanhã 13/04/2019, teremos reunião na ALTM e Padre Prata nos provocará essa vontade. Antes da palestra do Acadêmico Carlos Alberto Cerchi - cadeira 39, Thomaz será afetivamente reverenciado.