ARTICULISTAS

Caiu a ficha

Há alguns anos dedicamos ao amigo Orelhão um artigo

Mário Salvador
mariosalvador@terra.com.br
Publicado em 02/04/2013 às 19:57Atualizado em 19/12/2022 às 13:54
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Há alguns anos dedicamos ao amigo Orelhão um artigo, publicado no Jornal da Manhã, que tratava dos benefícios do telefone público e alertava sobre a necessidade de sua preservação, pois, em muitos lugares, consiste na única forma de comunicação possível para um contato com serviços disponíveis em caso de incêndios, socorro médico e segurança. O artigo foi depois publicado em várias edições de catálogos de telefone, e, nesse período, a situação da telefonia mudou demais.

Aparelhos telefônicos públicos surgiram como alternativa para aqueles que não podiam pagar por uma linha telefônica. De início, funcionavam com moedas. Mais tarde, com a ficha telefônica. Embora ela tenha caído em desuso, a expressão “caiu a ficha” sobreviveu. Quando a ficha caía dentro do aparelho é que a ligação telefônica se efetivava. Hoje a ficha caiu... em desus usa-se, em telefone público, o cartão telefônico. Ou, curiosamente, aproveita-se a estrutura protetora do Orelhão, também por sua acústica, para se falar... ao celular. Isso mesmo. Existem hoje, no Brasil, mais de duzentos e trinta milhões de celulares, o que concorreu para diminuir o uso do Orelhão.

E da época em que só se era possível fazer uma ligação telefônica com o auxílio de uma telefonista, até o advento do celular e aparelhos afins, há muita história para contar. Houve várias tentativas de instalação de telefones nas calçadas. E o Orelhão, em fibra de vidro, surgiu como projeto da arquiteta brasileira Chu Ming Silveira. A ideia vingou por reunir praticidade, conforto, resistência, acústica, simplicidade e baixo custo, além de um design bonito e original. Empresas de telefonia cumpriram a exigência das autoridades de instalar orelhões nos municípios brasileiros, de acordo com a necessidade.

A história sofreu uma tremenda reviravolta: agora acontece o oposto; as autoridades estão permitindo a retirada de até quinhentos mil orelhões do país. Especialmente com o aumento do número de aparelhos de telefonia móvel, hoje acessíveis a todos, o Orelhão é muitas vezes relegado a segundo plano. Essa expansão só não é maior, segundo o Sindicato das Empresas de Telefonia, porque 250 leis no país impedem a instalação de antenas em várias cidades. E sem antena, nada de sinal.

Mas ficar em segundo plano não é nada diante da situação em que se encontram certos orelhões. Mesmo com o desdobramento da operadora para higienizar e manter esses aparelhos, muitos deles são o retrato do vandalismo que assola as cidades: estão sujos, quebrados, pichados, danificados, cobertos por adesivos de propagandas. A população que precisa desses aparelhos fica prejudicada.

Parece-nos impossível imaginarmos diversos pontos da paisagem brasileira sem esse belo elemento imortalizado como Orelhão. Pela perfeição do projeto, cidades de diversos países adotaram a ideia, que é um dos símbolos do Brasil. Seu histórico de bons serviços prestados às comunidades nos faz reverenciá-lo e obriga-nos a respeitá-lo enquanto sobreviver. É o nosso sentimento de gratidão com sabor de Brasil.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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