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Carnaval... Carnavais

Passei em casa estes dias chamados de “Carnaval”. Sem nada a fazer fiz companhia aos outros milhões de brasileiros que viam e viviam pela televisão o que hoje se chama “carnaval”

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 17/02/2010 às 00:31Atualizado em 17/12/2022 às 05:59
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Passei em casa estes dias chamados de “Carnaval”. Sem nada a fazer fiz companhia aos outros milhões de brasileiros que viam e viviam pela televisão o que hoje se chama “carnaval”. Em tempos melhores e ainda recentes eu saía de férias, algum passeio, pescaria ou aquele clássico roteiro de algum navio retirante pelo mar afora. Do que acontece com o nosso carnaval histórico eu nem tomava conhecimento. Agora, fixado em poltrona ou cama de terra firme, tive que acompanhar o nosso carnaval 2010.   Agora, imaginem meus companheiros de velha idade, não o que assistia, mas sim o carnaval de que eu me lembrava e vivia. Existem uns poucos daquele tempo em que carnaval não era cinema, concurso e exibição. Não eram apenas três dias, porque havia bailes carnavalescos todos os sábados de janeiro pra diante, um pré-aquecimento. A gente aprendia as músicas novas – o Ala-lá-ô, o pirata da perna de pau, a jardineira... um monte de músicas que por anos afora a gente ia lembrando e cantando. Olha, e o corso de automóveis nos fins das tardes, trocando serpentinas e confetes, e lança-perfume, namoros que começavam e iam a casamentos, e todo mundo participante, matinê infantil e bailes que varavam a madrugada. Uma bagunça nacional e geral, descarregando contrariedades e carregando as pilhas para o resto do ano. Havia carnaval de rua, blocos que competiam na animação e prêmios, às vezes disputados na rua principal e quebrando o pau... mas tudo era festa, droga e violências corporais e sexuais não existiam – tudo era carnaval. Agora, vejo que isto acabou, o carnaval virou carnavais, concurso, carros alegóricos e gastos de dinheiro de origem tão desconhecida que me lembram Brasília. As fantasias são caprichadas, blocos de rua gastam horas de um desfile chatíssimo e exibicionista, cantam músicas de letra quilométrica e confusão total, o jacaré desconhecido é criminoso do meio ambiente, paredes humanas estão urinando nos muros, poluição nasal, ambiental e educacional, mas tudo vale neste vale-tudo. As fantasias femininas são caríssimas, cheias de miçangas, cordões e bolinhas douradas, mas espalham-se por braços e pernas e sapatos – mas deixam de fora peitos plásticos e bundas de alta provocação e periculosidade.   Ali na frente a pomba da paz (viva João Sabino) é apenas sugerida, balanças muito mas fez o possível para não voar. As arquibancadas, camarotes e balcões estão vendidos aos únicos ingênuos que ainda chamam a isto “Carnaval do Brasil”. Dinheiro estrangeiro, Lula tem orgasmos justificáveis porque isto prova que no Brasil crise é marola, marolinha apenas. Os ricos (inclusive brasileiros curiosos e de sexualidades duvidosas) apareceram na TV e nas revistas, daqui e de lá em fora – olha eu aqui, gente, no maior espetáculo do mundo! Para estes todos, aí estão os carnavais atuais do Brasil. No imenso restante territorial do Brasil, já não existe carnaval. Alguma festinha e fumo e sexo, aqui e ali, como sempre e em todo lugar. Sinto e sinto-me históric pra que o Dino foi pegar erisipela, logo agora? Onde pescar, para não chorar?

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