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Carnaval e Coresma

Desde criança, lembro-me desta dualidade tão proximal – o tempo do carnaval seguido do tempo da Quaresma, que o Dino e nossos roceiros...

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 13:55
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Desde criança, lembro-me desta dualidade tão proximal – o tempo do carnaval seguido do tempo da Quaresma, que o Dino e nossos roceiros insistem em chamar coresma. De um lado, a mocidade fazia as festas sucessivas e carnavalescas, a gente aprendia logo Ala-la-ô, Pirata da perna-de-pau, Periquitinho Verde, Nós, Os Carecas (ou os cabeludos também), Mulata Bossa Nova e por aí afora, até a cueca do Silvio Santos e outras que foram piorando e hoje morreram na saudade. As marchas carnavalescas morreram junto com os bailes, os cordões, o confete, a serpentina, o corso festivo dos calhambeques e fordicos sem capota e lança-perfume. Carnaval hoje é festa fechada e limitada aos clubes e à presença de uma juventude adoidada por drogas e bebidas malucas, começando tarde, porque a patota está enchendo a cara para vazar a noite e desmaiar pelas oito ou nove da manhã. Pais e parentes vigilantes? – pô, estes estão sumariamente eliminados. Se querem carnaval, liguem a sua televisão, e não chateiem. Alguns carnavais de rua sobrevivem pela tradição e safadezas tradicionais, onde Pernambuco e Bahia mostram as pernas e tudo mais. Aqui, no Rio e em SP é apenas o desfile das escolas de samba, uma repetição monótona e sem graça, nenhuma diferença entre a primeira e a última – a não ser a grana grossa e corruptora dos bicheiros e políticos. Estes, aliás, não perdem a chance de aparecer nos jornais e na TV. Agora, ainda mais, porque no ano que vem temos eleições (outra vez...). Vendo Lula, D. Mariza, governadores, senadores e deputados naquela tela do “olhem eu aqui”... caramba, é de doer este sinal dos tempos do novo carnaval. Mas deixem isso pra lá – afinal, começa a coresma, ninguém quer se exibir nesta época de tradição mais que milenar. É verdade, Quaresma sugere penitência desde a minha infância, o jejum, a abstinência de carne e festas, falar baixo, ter compostura nas palavras e nas atitudes... Será que Quaresma é festa pra políticos, pra juventude adoidada que fica inventando micaretas onde os picaretas lhes tomam a mesada do pai e fazem descarada propaganda das camisinhas que sobraram?... Sei não, mas me parece que aquele carnaval festivo, clássico, com a presença e a alegria de toda a família, acabou: é apenas televisão, exibição, oportunismo político e sacanagem, agora ostensiva e apregoada. A Quaresma, coitada, passa despercebida. Apenas alguns saudosistas dela se lembram, comprando peixe na sexta-feira, pensando no que devem confessar, porque vem por aí a Semana Santa. Aliás, não é preciso confessar de tudo. Nos tempos e costumes atuais, o pecado está com a bilheteria quase vazia. Padres e pregadores não sabem o que dizer. Alguns repetem os antigos discursos escatológicos ameaçando desgraças e sofrimentos; outros acham melhor rezar de boca fechada, isso não afasta nem espanta os seus fiéis. São novos tempos. Estamos esperando novos tempos ou são estes os tempos definitivos que irão enterrar aquele passado de saudades?

 

(*) médico e pecuarista

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