“Honre os médicos por seus serviços. A ciência do médico faz com que ele seja admirado...
“Honre os médicos por seus serviços. A ciência do médico faz com que ele seja admirado por todos. Com a ciência, o médico cura e elimina a dor. Dele vem o bem-estar para a terra.” (Eclo 38, 1-8)
É isto o que se lê na Bíblia sobre o médico. Ele estuda e se prepara para exercer um papel altamente significativo. É um dom que deve ser usado para o bem dos outros. Ele trabalha a favor da vida e contra a morte. É responsável pela vida. Ele, o médico. Não são os curandeiros, os benzedeiros, os exorcistas, os milagreiros, os fabricantes de garrafadas. É o médico.
Não sei o que nos leva a nos fazer de médicos e sair por aí distribuindo receitas e poções milagrosas. Dessa estranha autoatribuição já sabiam os nossos antepassados: “De poeta, médico e louco, cada um tem um pouco”.
Todos os dias nós nos revestimos de médicos e conhecedores dos segredos da vida, de portadores de receitas miraculosas para todos os males. Para qualquer tipo de doença, temos no bolso da camisa o remédio certo. Quando não é remédio, é simpatia. Todos nós sabemos curar desde a caspa até o câncer. Por falta de remédio, nós não vamos morrer. As comadres já estão com as garrafadas prontas bem ali atrás da porta.
As soluções para nossos males marcam época. Há tempos atrás, vivemos o ciclo do ipê roxo. O chá das cascas daquela árvore curava câncer de qualquer tipo e gravidade. Em poucos dias, “pelaram” todos os ipês da cidade. “Pode crer, tenho um amigo que sofria de câncer no pulmão...” e vinha aquela estória da cura.
Houve a época da arnica. A época da berinjela. A época da infalível, aquela raiz do cerrado que purificava o sangue, curtida no vinho branco. Na falta do vinho, a pinga servia. Houve a época dos florais de Bach, a época do suco de couve, do bálsamo. Tempos da babosa, do alho, do guaco, do assa-peixe e da geleia real. Até a urina já foi cantada em prosa e verso, como purificadora do sangue. Urina própria, é claro, para evitar falsificações. Você sabe, com a idade, o sangue engrossa. A urina serve “pra raliá ele”.
Há uma semana, um amigo meu, preocupado com meu possível colesterol, aconselhou-me o vinagre de maçã. Uma colher de sopa todos os dias, pela manhã. Um santo remédio. Os fenícios, os sumérios, os acádios, cretenses e árabes o cultuavam como dádiva dos deuses. Depois dos argumentos da história, passou-me um folheto com as instruções para o uso. Nele, aprendi que o vinagre cura reumatismo, artrose, artrite, gota, retarda o envelhecimento, equilibra o metabolismo, dá brilho nos cabelos, combate a osteoporose, cura problemas do ouvido médio, alivia as cãibras, acalma os músculos cansados, limpa as erupções, neutraliza as picadas de insetos, acalma a tosse, destrói os micróbios das verduras, limpa a infecção dos olhos, reduz a hipertensão, é imunizante, anti-inflamatório. Vou parar, mas a lista não parou.
Diante disto aí, para que médico? Dê cartão vermelho para ele. Jogue fora seu cartão da Unimed. E compre vinagre. Muito vinagre. Uma colher de sopa pela manhã. E, cuidado! Tem de ser vinagre de maçã. Outro não serve.