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Casamento ou teatro?

Nos primeiros séculos do Cristianismo, o matrimônio

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 07/10/2012 às 14:10Atualizado em 19/12/2022 às 17:01
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Nos primeiros séculos do Cristianismo, o matrimônio era uma festa familiar. Era uma cerimônia que se realizava nas casas dos pais, com a bênção dos pais. Não era uma festa mundana. O clima era de oração. Às vezes, o bispo era convidado para abençoar os noivos, juntamente com os pais. O significado era altamente “familiar”.

A partir do século IV, a bênção passou a ser dada não mais pelos pais, mas somente pelo bispo ou por um de seus presbíteros. A cerimônia não era mais realizada na casa dos pais, mas no Templo. A cerimônia foi entrando na Liturgia, apareceram os sacramentários, livros com orações apropriadas para o acontecimento. O matrimônio tornou-se "eclesiástico".

A partir do século XII, a consciência de que o matrimônio era um Sacramento foi se aprofundando. Com o Concílio de Trento, a partir do século XVI, não poderia haver mais casamento para os cristãos a não ser perante a Igreja. Leis foram estabelecidas para regular a cerimônia. Para que fosse válido, era preciso que fosse consumado. O consentimento mútuo era importante, mas somente a consumação sexual  sela a indissolubilidade absoluta. O matrimônio tornou-se um contrato sexual, regido por um direito, o Direito Canônico. Era um contrato. O que lhe dava sentido não era tanto uma união de amor, mas a intenção de procriar filhos. Uma relação que não tivesse a intenção de gerar filho, era pecaminosa. O matrimônio tornou-se "canônico".

No século XX, a partir de 1962, com o Concílio Vaticano II, o matrimônio passa a ser considerado muito mais do que um contrato regido por leis.  É uma aliança.  Seu objetivo primordial não é mais  a procriação de filhos, mas sim uma união de amor,  uma "aliança" de amor. Duas pessoas se unem não apenas para gerar filhos, mas principalmente para viver intensamente o amor cristão. É uma festa de amor. Para o cristão é uma união do mais alto significado. Não é apenas uma união de corpos, mas um "encontro" de duas pessoas humanas, no seu sentido mais profundo, em sua totalidade física, psicológica, afetiva e espiritual. É algo de muito sério.

Alguns  anos depois do Vaticano II, as coisas não estão como era de se desejar.  O matrimônio está se esvaziando cada vez mais. Torna-se cada vez mais uma festa profana.  De início, os noivos acham que o Curso de Preparação é uma exigência descabida da Igreja. Eles não entendem que a Igreja procura ajudar. Está tentando despertar neles a consciência de que aquele gesto é um gesto de grande significado para eles. Acham que já sabem de tudo. Reclamam das exigências da Igreja.

Não é só. Aquela cerimônia se tornou mundana. Para as noivas é uma oportunidade para satisfazer vaidades. O acidental torna-se o centro das preocupações. O mais importante é o periférico. É a ornamentação, é o vestido, é o desfile, é a fotografia, são as damas de honra, das alianças, é a música.  Eles não têm nenhuma consciência de que aquele ato é um ato religioso. Mais do que uma festa, alguns casamentos têm muito a ver com um teatro. No caso, o padre celebrante tem que tolerar, calado, atrasos de trinta, quarenta minutos. As noivas se esquecem de que atraso programado é falta de delicadeza para com a comunidade presente. E, o que é pior, enquanto o padre celebra a cerimônia, enquanto lê a Palavra de Deus, enquanto ora, os nubentes nem sempre prestam nenhuma atenção. O importante é o ambiente cênico. O casamento se tornou um “teatro”. Nem sempre de bom gosto. 

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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