O Laboratório de Imunologia e Bioinformática da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) publicou artigo científico sobre o possível papel do vírus SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19, na estimulação de doença que afeta os neurônios.
Trata-se do desencadeamento da doença Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (Lemp). O estudo foi publicado na revista “International Journal of Infectious Diseases”, que divulga pesquisas originais e na fronteira do conhecimento sobre doenças infecciosas.
Durante o estudo realizado na UFTM, intitulado “Avaliação da resposta imune na infecção por Covid-19 em pacientes do município de Uberaba”, que envolveu a avaliação, o diagnóstico e acompanhamento de 2.000 participantes no contexto da pandemia, surgiu um caso que intrigou os pesquisadores, o de um paciente atendido em agosto de 2020 no Hospital de Clínicas da UFTM (HC-UFTM).
“Até o presente momento, este caso, com suas particularidades, é o primeiro a ser registrado na história da literatura científica, enfatizando o potencial da Covid-19 em desencadear outras doenças graves”, afirmou o professor Carlo Oliveira, um dos coordenadores da pesquisa.
O paciente em questão apresentou subitamente desorientação, dificuldade na comunicação (afasia) e problemas para resolver cálculos matemáticos (acalculia). Investigações subsequentes revelaram a presença do HIV, que até então não havia sido diagnosticado. Além disso, uma ressonância magnética realizada mostrou padrões sugestivos de Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (Lemp), uma doença que afeta a camada protetora dos neurônios, prejudicando a comunicação entre as células do Sistema Nervoso Central (SNC). Posteriormente, a análise do líquido cefalorraquidiano, coletado por meio de punção lombar, identificou a presença do SARS-CoV-2, o vírus responsável pela Covid-19, bem como do poliomavírus humano 2 (HPyV2), um vírus pouco conhecido e responsável por causar a Lemp.
Os pesquisadores também observaram uma produção elevada de citocinas (mensageiros do sistema imunológico) relacionadas ao perfil de resposta imunológica TH17 que, em algumas situações, pode contribuir para a alteração na permeabilidade da barreira hematoencefálica (responsável por regular o fluxo de substâncias entre o sangue e o SNC), potencialmente colaborando no desencadeamento de doenças que afetam o cérebro. Esses achados levantam preocupações e justificam a necessidade de investigações mais aprofundadas para entender os mecanismos subjacentes às lesões no SNC em pacientes com Covid-19.
O trabalho, coordenado pelos professores Virmondes Rodrigues, Marcos Vinicius da Silva e Carlo Oliveira, envolveu a colaboração de estudantes de graduação e pós-graduação, bem como de médicos e docentes do HC-UFTM.