À frente da delegacia de Repreensão a Crimes Rurais, Tiago Cruz Ferreira analisou, à Rádio JM, que a situação nos estabelecimentos em Uberaba é quase sintomática, e o cidadão precisa conhecer seus direitos de fiscalização
Apreensão de quase uma tonelada de carne imprópria para o consumo em açougue de Uberaba (Foto/Divulgação)
Ratos mortos, linguiças penduradas, carnes provenientes de gado furtado... a situação dos açougues de Uberaba recentemente fiscalizados pela Polícia Civil e pelos órgãos de controle sanitário reforça a importância de o consumidor ser cada vez mais exigente e atento aos estabelecimentos que frequenta. O delegado Tiago Cruz Ferreira, titular da Delegacia Rural, à frente das grandes operações recentes na cidade, pondera que não há mais espaço para as irregularidades, e reforça que o cidadão deve elevar o nível de cobrança aos estabelecimentos que comercializam carne, como açougues, restaurantes e churrascarias.
Grande caso que mobilizou agentes da Polícia Civil, Vigilância Sanitária, Procon e Ministério Público de Minas Gerais, a operação “Brahman”, desencadeada pela Delegacia de Repreensão a Crimes Rurais, chamou a atenção pela quantidade de carne irregular que foi encontrada em estabelecimentos tradicionais de Uberaba. A ação começou como investigação a casos de furto de gado na zona rural, mas escancarou a condição de diversos açougues. Em muitos deles, além de condições precárias de acondicionamento, sem a devida preocupação sanitária, não foram identificadas as notas fiscais, o que indica possibilidade de que sejam alimentos provenientes de animais furtados ou roubados.
Durante as diligências, a investigação ecoou por diversos comércios uberabenses, inclusive com a prisão, em primeiro momento, e o indiciamento de donos de restaurantes conhecidos. Também houve indícios da participação de fiscais da Vigilância Sanitária, o que mostra um esquema criminoso na ação dos suspeitos.
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Toda essa situação levanta suspeitas e o delegado Tiago Cruz Ferreira, responsável pela Delegacia de Repreensão a Crimes Rurais de Uberaba, reforça a necessidade de os consumidores serem mais exigentes e atentos na hora das compras. “Isso é resultado da comodidade do empresário e da própria população, que não tem o costume de cobrar. A população tem direito de ir à cozinha, no restaurante, de entrar no estabelecimento e verificar as condições de higiene. Porque, geralmente, do lado de fora está tudo bonito e arrumadinho, mas dentro, uma nojeira. Não digo que são todos os açougues de Uberaba, mas nos que nós fiscalizamos, todos estavam nessa situação”, expõe.
O delegado, em entrevista à Rádio JM, nesta terça-feira (6), deu dicas para que o cliente suspeite de um local. Primeiro, é preciso estar atento aos preços. Se houver promoções frequentes ou um valor de peça muito abaixo do mercado, é possível que o estabelecimento tenha alguma irregularidade. Para essa verificação, é preciso acionar os órgãos de fiscalização, tanto pelo 190 da Polícia Militar, 181 do Procon ou a Vigilância Sanitária, que farão a conferência documental.
Mas o mais importante é o consumidor conhecer os seus direitos. Está previsto na Lei 5.938, de 2013, que autoriza clientes visitar cozinha de estabelecimentos comerciais do ramo alimentício. Além da cozinha, também podem ser vistoriados pelos consumidores os locais de estocagem de alimentos ‘in natura’ ou já processados, os equipamentos de transportes de alimentos, os acessórios para deposição de alimentos em processamento, inutilizados, não aproveitados, ou sobras, e os demais acessórios que tenham contato, atual ou potencial, com alimentos para consumir ou destinados à eliminação de dejetos.
“O próprio consumidor não cobra a higiene do local, não pede para ver como está. Até mesmo no restaurante, o consumidor tem direito de ir à cozinha ver como é. E o empresário não tem cuidado com a higiene. No último que fomos, tinha rato morto e veneno de rato perto das carnes. É realmente uma situação precária que verificamos em alguns estabelecimentos”, finaliza Tiago Cruz.